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1935

Antonio Henrique nasceu em 24 de agosto, na Maternidade Pro Matre, em São Paulo, quarto filho do casal Nadya Abreu Amaral e Aguinaldo Amaral. São suas irmãs Suzana, Aracy e Ana Maria.[1] A família morava na rua Caconde, no Jardim Paulista.

Nascido em Itu, em 1899, o pai sempre trabalhou com café. Conseguiu sobreviver à débâcle de 1929; pertenceu ao antigo Departamento Nacional do Café (DNC), criado por Getúlio Vargas, mais tarde denominado Instituto Brasileiro do Café (IBC), e chegou a ter sua própria casa exportadora: a Sociedade Anônima Amaral. “Um homem prático, firme, objetivo, cheio de vitalidade, emotivo, que gostava das coisas boas da vida, não desprezava o prazer. Figura fascinante”.[2] Nascida em São Paulo, em 1904, filha de italianos e portugueses, a mãe era uma admirável diseuse. Chegou a recitar no Teatro Municipal de São Paulo, mas abandonou a ribalta por vontade do marido. “Minha mãe tinha uma vida espiritual muito rica”.

Em 1937, a família se estabelece em Santos, devido às exigências do trabalho do pai. Dois anos mais tarde, ele é promovido a diretor do escritório do DNC na Argentina, ligado à Embaixada do Brasil. A família se transfere para Buenos Aires, vivendo ali por dois anos. Durante esse período, o pai inicia a construção de uma casa em Campos do Jordão, na serra da Mantiqueira.

Em 1941, a família volta a viver no litoral paulista, instalando-se em São Vicente, onde Antonio Henrique cursa o jardim da infância, o primário e o ginásio no Colégio Martim Afonso, dirigido pelas irmãs Bicudo (mais tarde incorporado pela rede estadual de ensino). Pratica hipismo no Clube Hípico de Santos e natação no Clube de Regatas Tumiaru. Foi campeão infanto-juvenil de natação, mas foi no hipismo que colheu seus maiores êxitos. Ganhou mais de 60 taças em torneios, representando o Clube Hípico de Santos (do qual o pai era presidente) e a Sociedade Hípica Paulista, montando os cavalos Simoun e El Morocco. Aos 17 anos, chega perto de disputar as eliminatórias para as Olimpíadas de Helsinque. Nas férias, a família viajava para Campos do Jordão.

1950

A família muda-se para São Paulo, instalando-se na rua Sabará, no bairro de Higienópolis, quando o pai passa a chefiar o IBC de São Paulo. Antonio Henrique cursa o clássico no Instituto Mackenzie. Publica textos no jornal do colégio e desenha muito: “Já era a minha dicotomia. A expressão verbal e os desenhos”.

1951

Visita a 1ª Bienal de São Paulo e fica intrigado e fascinado com o que vê. O artista lembra: “A primeira Bienal foi para mim um impacto, a revelação de um universo mágico e fecundo. E ver ‘ao vivo’ obras de pintores consagrados, que a gente conhecia apenas em reproduções e livros, foi fundamental”.[3]

1952

Por três meses, estuda desenho com Roberto Sambonet, no recém-criado Instituto de Arte Contemporânea do Museu de Arte de São Paulo.

Desde os 17 anos, eu pressentia que seguiria o caminho da arte. Arte como possibilidade de integrar-me ao mundo, arte como meio de conhecer a mim mesmo, como instrumento de desenvolvimento espiritual, emocional, sentimental e intelectual. Arte, porque gostava de desenhar, usar minhas mãos, ver traduzidas no papel imagens que estavam na minha cabeça.[4]

1954

Ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no Largo São Francisco, com a sétima nota. Inicia o hábito de escrever diários, nos quais registra suas inquietações, tentando desenvolver uma autoconsciência crítica e compreender o país e o mundo em que vive: “Minha cabeça estava na arte. Passava dias e dias desenhando, lendo e escrevendo. Não sabia se iria ser escritor e ilustrar meus contos ou se me tornaria pintor e artista gráfico”.

Lê compulsivamente Vicki Baum, Erich Fromm, Aldous Huxley, Herman Melville, Nietzsche, Dostoiévski, Henry Miller, D. H. Lawrence, Bernard Shaw e outros.

No ano seguinte, passa a frequentar o bar do Museu de Arte Moderna de São Paulo, importante ponto de encontro da boemia paulista, onde conhece Marcello Grassmann, Aldemir Martins, Wolfgang Pfeiffer, Mario Toral, Manabu Mabe, Clóvis Graciano, Arnaldo Pedroso D’Horta, Sergio Milliet, Almeida Salles, Clóvis Graciano e outros.

Entre os amigos do Largo São Francisco, está Luís Sérgio Person, que encena peças teatrais em casa de amigos como Antunes Filho, Flávio Rangel e Cláudio Petraglia, sobrinho de Victor Costa, da TV Paulista. Todos frequentadores assíduos dos bares Barba Azul, Paribar e Taí, próximos à Biblioteca Municipal.

Em 1955, participa pela primeira vez de uma exposição com desenhos, no Salão de Arte de Santos.

1957

Por sugestão de Grassmann e estimulado por Aldemir Martins, ingressa no curso de gravura da Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo, na praça Roosevelt. Faz linóleo e xilogravura sob a orientação de Livio Abramo.

Livio Abramo nos transmitia, a nós, seus alunos e amigos, uma sensação de total integridade e dedicação ao ofício de gravador. Caráter, seriedade, alegria por fazer o que fazia e dedicação irrestrita. Isso era o mais importante. Ele nos ensinava o domínio dos instrumentos de trabalho e como entender a infinita gama de possibilidades entre o branco e o negro, como obter e compreender as sutilezas e todo o potencial da xilogravura, tão bem ilustrado em sua notável obra, uma das mais refinadas da gravura brasileira.[5]

O aprendizado da gravura opera uma drástica mudança na expressão do artista: “O maneirismo do bico de pena foi desaparecendo e cedeu lugar a uma linguagem expressionista, mais corajosa no confronto entre o preto e o branco”.[6]

Em maio, obtém medalha de bronze no 6º Salão Paulista de Arte Moderna, com dois desenhos. Em dezembro, integra o 5º Salão Oficial de Belas-Artes de Santos.

1958

A convite de Wolfgang Pfeiffer, faz, em julho, sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo, à rua Sete de Abril. Apresenta 26 gravuras produzidas entre 1957 e 1958. A linogravura Casal, de 1958, figura na capa do catálogo, que tem apresentação de Livio Abramo:

No curso de gravura que começou a frequentar, passou Antonio Henrique a cortar furiosamente seus primeiros linóleos, e suas imagens – perdido um certo maneirismo que possuía seu desenho – adquiriram maior força, digamos até, uma certa violência e agressividade, que lhes emprestam esse especial sabor e força um tanto bárbaros que é uma das características do notável gravador que ora apresenta, por intermédio do Museu de Arte Moderna, sua primeira mostra individual ao público paulistano.

O amigo Antunes Filho faz um programa para a TV Tupi entrevistando o artista e apresentando suas gravuras.

Em agosto, integra o 7º Salão Paulista de Arte Moderna, no qual recebe medalha de bronze.

Decidido a encarar a vida como artista, tranca matrícula no curso de Direito e viaja para a Argentina e o Chile.

Entre novembro e dezembro, expõe suas gravuras no Instituto Chileno-Británico de Cultura, em Santiago, a convite de Arturo Edwards, presidente do Instituto e mecenas. Victor Carvacho escreve texto de apresentação no catálogo da exposição.

1959

Em janeiro, expõe na Universidad de Concepción, a convite do artista cubano Mario Carreño, professor na instituição. José Gómez-Sicre, diretor da Pan American Union, visita a mostra e o convida para expor em Washington (Estados Unidos).

Integra o 23º Salón de Verano de Viña del Mar, no qual apresenta três gravuras: Mujer em negro, Mujer e Movimiento.

A planejada estadia de três semanas no Chile se transforma numa temporada seis meses, período em que conhece vários artistas e intelectuais, entre eles, Pablo Neruda, acompanhando a jornalista Cleuza Vieira em entrevista ao escritor.

Permanece apenas dez dias no Brasil antes de embarcar para os EUA.

Entre abril e maio, expõe 25 gravuras na individual Antonio Henrique of Brazil: Prints, na Pan American Union, em Washington, com texto de apresentação de Gómez-Sicre. As críticas são boas. De Washington, parte para Nova York, onde frequenta o Pratt Institute com bolsa da Ingram Merrill Foundation. Estuda xilogravura com Shiko Munakata, gravura em metal com Walter Rogalski e litografia com Arnold Singer.

Munakata conversava conosco via uma intérprete e sempre contava, antes ou depois da sua aula, uma parábola Zen, que ilustrava, de certa forma, sua atitude diante da vida e do trabalho de gravador. Ele era extremamente míope e gravava com os olhos muito perto da madeira, uns dez centímetros mais ou menos! Trabalhava muito depressa, sem se preocupar com a totalidade do espaço a ser ocupado. E nos dizia que, se as incisões numa pequena área da madeira forem feitas com intensidade, com o “coração” e com o hara (espécie de cérebro abdominal), o TODO estará sempre como dever ser. Dizia que, em arte, não devemos nos preocupar em ser coerentes com ideias, conceitos estéticos, correntes de pensamento ou quaisquer fenômenos periféricos ao trabalho de criação.[7]

O contato com Munakata é decisivo. “Enquanto Livio recomendava a disciplina do meio tom, Munakata era autor de um desenho mais fluido e instintivo. Mimava figuras mais ínsitas, formas irregulares e menos construídas. E Antonio Henrique encontra particular afinidade com o modo de Munakata rasgar os brancos da gravura”, escreve Ana Maria Belluzzo.[8]

Depois de cinco meses nos EUA, volta ao Brasil.

Integra a 5º Bienal Internacional de São Paulo e apresenta-se individualmente na Galeria Antigonovo (São Paulo), com gravuras produzidas nos EUA. Wolfgang Pfeiffer, diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo e da Bienal de São Paulo, escreve sobre as xilogravuras do artista na revista Habitat (n. 57, nov.-dez. 1959): “Antonio Henrique quis reduzir a figura a um grafismo que forma, na estrutura do trabalho, a espinha de distribuição de valores formais e significativos. É fenômeno natural a figura sob a ação de tais processos se aproximar da figura indígena e primitiva”.

1960

Em janeiro, expõe 30 gravuras em individual na Petite Galerie (Rio de Janeiro), a convite de Franco Terranova. A xilogravura Nu Avenida Atlântica, de 1959, é retirada da vitrine pela polícia carioca.

Ainda no Rio, sem conseguir sobreviver como artista, passa a trabalhar como assistente de Alfredo Bonino, na Galeria Bonino, à rua Barata Ribeiro, e mais tarde, na Petite Galerie. Conhece Ivan Serpa, Cândido Portinari, Antônio Bandeira, Djanira, Oswaldo Goeldi, Antonio Dias, Anna Letycia, Thereza Miranda e outros. Durante esse período, desenha e grava à noite, num quarto alugado, na rua Domingos Ferreira, em Copacabana.

Em fevereiro, participa da coletiva Jovem Gravura Brasileira, apresentada na galeria de exposições do Diário de Notícias, em Lisboa (Portugal), ao lado de Ernesto Lacerda, Lygia Pape, Maria Bonomi, Mario Carneiro e Roberto De Lamonica. Expõe cinco xilogravuras. Em setembro, organiza e integra a representação brasileira no Primer Certamen Latinoamericano de Xilografía, em mostra na Plástica Galería de Arte, Buenos Aires (Argentina). Comemorativo do 150º aniversário da Independência da República Argentina, o evento conta com a participação de artistas da Argentina, da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, de Cuba, do Chile, do México, do Paraguai, do Peru e do Uruguai. Do Brasil, participam também Adyr Botelho, Arnaldo Pedroso D’Horta, Braz Dias, Décio Ferreira, Dorothy Bastos, Fayga Ostrower, Izar do Amaral Berlinck, Maria Bonomi, Miriam Chiaverini, Newton Cavalcanti e Yara Tupinambá. Participa também do 9º Salão Paulista de Arte Moderna.

Ainda durante a estadia no Rio, conhece Norha Beltrán,[9] pintora boliviana radicada no Brasil, então dirigindo a galeria da Livraria Penguin, em Copacabana. Passam a viver juntos. Era preciso manter a família. Viu um anúncio num jornal paulista. Precisavam de alguém para um curso de formação de gerentes, com um salário bem maior do que aquele que ganhava na galeria. Candidatou-se, foi entrevistado, ganhou o emprego, mudou-se para São Paulo.

1961

Já vivendo em São Paulo, no Largo do Arouche, integra, em março, coletiva com Anatol Wladyslaw, Edith Jimenez, Italo Cencini e Mario Zanini na Galeria de Arte das Folhas, onde expõe 15 desenhos. O texto de apresentação no catálogo é extraído do diário do artista:

Deve o artista acostumar-se a viver no caos, no conformismo, ser um eterno masoquista a deliciar-se ante a visão de sua própria desintegração? Não é hora de que o artista tome consciência da dolorosa realidade e reencete sua busca por uma nova síntese, uma nova integração, uma nova harmonia?

Em junho, participa do 10º Salão Paulista de Arte Moderna. No mesmo mês, a convite de Delmiro Gonçalves, a gravura A viagem é reproduzida no Suplemento Literário do jornal O Estado de S.Paulo. A obra também integra a 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em setembro, ao lado de outras quatro gravuras: Entes, de 1960 (também chamada Demônios), Animais noturnos, de 1961 (ou Criaturas da noite), Amantes e animais, de 1961 (também denominada Amantes e anjo) e Mulher, de 1961.

1962

A convite de Antônio Mana, apresenta-se em junho, na Galería Saber Vivir, em Buenos Aires (Argentina). A mostra traz 18 gravuras do artista e poemas gráficos de Eros (pseudônimo de Antônio Lisboa Carvalho de Miranda).

Participa do 11º Salão Paulista de Arte Moderna, no qual obtém a pequena medalha de prata, e no 19º Salão Paranaense de Belas-Artes e 3º Salão de Curitiba, laureado com a medalha de prata e o prêmio de aquisição Catarina Prosdócimo na categoria gravura.

Nasce sua filha Carla Nadya, em 12 de agosto.

Inicia uma série de desenhos e guaches, introduzindo a cor em seu trabalho. Sobre o uso da cor, o artista comenta: “Eu tinha pavor, insegurança, medo de usar a cor. A cor é uma coisa muito emocional”.[10]

Ilustra o livro de poemas Viagem ao redor do espelho, de Ana Maria Amaral, sua irmã, com capa de Wesley Duke Lee (Anhambi).

1963

Ganha prêmio de aquisição no 12º Salão Paulista de Arte Moderna.

Trabalha com guache e aquarela. Parte dessa produção – 25 aquarelas recentes – é apresentada em novembro, na Galeria Mobilínea, na rua Augusta, em São Paulo. O poeta e crítico Sergio Milliet escreve a apresentação: “Se a crítica não apreciar, lamentarei, estranharei e discordarei. Se o rapaz tem uma grande ou pequena mensagem, não sei. O tempo nos dará a resposta. O que desde já eu sei é que ele sabe dizer o que quer. E é muito”.

Participa do concurso para o cartaz da 7ª Bienal Internacional de São Paulo, com Moacyr Rocha, chegando à fase final (o cartaz vencedor é de Danilo Di Prete). Integra a mostra com quatro desenhos a nanquim e cinco xilogravuras – Diálogo na Terra (1963), Criaturas (1963), O passarinho matinal (1963), Imóveis em silêncio (1963) e Noturno (1963). Participa da 1ª Exposição do Jovem Desenho Nacional, organizada pelo Museu de Arte Contemporânea de São Paulo na Fundação Armando Alvares Penteado (São Paulo), na qual exibe três desenhos a nanquim. Em dezembro, Jovem Desenho Nacional é apresentada no Museu Carlos Gomes (Campinas) e, no ano seguinte, no Museu de Arte da Prefeitura de Belo Horizonte e no Museu de Arte do Paraná (Curitiba).

Em novembro, volta a se apresentar na Galería Saber Vivir, agora individualmente. O catálogo traz texto do poeta e jornalista Cayetano Córdova Iturburu:

Amaral conjuga em seus trabalhos o estremecimento às vezes inquietante de um intenso conteúdo humano com a dignidade técnica de um vocabulário plástico rico de possibilidades. Nessa ordem de coisas, é necessário sublinhar a pureza desse vocabulário ou, melhor, de seus recursos de ofício. Evidentemente identificado com as possibilidades expressivas da madeira, Amaral se limita a essa espécie de ortodoxia dos bons xilógrafos, que consiste em simplificar seus meios, elidir os cinzas e obter o máximo de expressão mediante o contraste, às vezes não desprovido de violência, entre os brancos e os pretos.

Novamente, suas gravuras ilustram o Suplemento Literário do jornal O Estado de S.Paulo, em duas ocasiões: em 12 de janeiro, com At the 7 Steps (1959), e em 15 de junho, com Demônios (1960).

1964

Separa-se de Norha e mora três meses no Hotel Príncipe, na avenida São João. Trabalha na Grant Advertising.

Diante da situação política do país, com o golpe militar, e das mudanças na vida pessoal, diminui seu ritmo de trabalho e participa apenas de duas coletivas em São Paulo: 13ª Salão Paulista de Arte Moderna, no qual apresenta três gravuras – Personagens superiores e inferiores e Antagonismo I e II –, e na mostra Seis Gravadores, na Galeria Atrium, ao lado de Dudu Santos, Hans Grudzinski, Izar do Amaral Berlinck, Moacyr Rocha e Odetto Guersoni.

Muda-se para a rua Cardoso de Almeida, no bairro de Perdizes.

1965

Um acidente de carro leva-o a passar por várias operações e aumenta sua perturbação emocional. Em desespero, para de produzir.

Conhece Ligia Valdrighi, que o incentiva a voltar a seguir com sua carreira artística. Surgem as gravuras da série “Generais” e as primeiras pinturas da série “Bocas”. Sobre as novas gravuras, diz o artista:

A transformação no meu trabalho foi consequência direta do trauma político e emocional que sucedeu a esse ainda recente desastre de nossa história. Um golpe militar na pior tradição política latino-americana. Isso mexeu com os corações e mentes de todos nós, e não ficamos indiferentes. As gravuras foram aparecendo, e a forma sem dúvida lembra a literatura de cordel, com imagens toscas, diretas, e com um certo humor, sarcasmo. Eu gravava com a intenção de me fazer entender com a maior clareza possível.[11]

Integra a importante mostra Brazilian Art Today, apresentada na Grã-Bretanha – na Art Gallery (Southampton), no Royal College of Art (Londres), na City Art Gallery (Plymouth), na Cardiff Arts Council Gallery (Cardiff) e na Arts Council Gallery (Cambridge) – e na Áustria (Museum für Angewandte Kunst, Viena); no ano seguinte, viaja também para a Alemanha (Beethovenhalle, Bonn). Organizada pelo Royal College of Art, a mostra exibe mais de 200 trabalhos, de cerca de 70 artistas brasileiros.

1966

De 1960 a 1966, “trabalhou em relações públicas e publicidade, foi comprar e vender quadros, seis meses de desemprego e entrou para a Brastemp, como auxiliar de propaganda; pouco depois, foi convidado para a Grant Advertising. Não como chefe de arte, mas sim como contato. Dali partiu para a Pfizer, como relações públicas e editor do house organ, com ótimo salário e carro à disposição”[12]. Resolve então abandonar todos os empregos e se dedicar integralmente à arte. Vende seu carro, um Volkswagen, e começa a produzir o álbum O meu e o seu.

No Rio de Janeiro, participa da Exposição Nacional de Pintura Air France, no Museu de Arte Moderna; em São Paulo, integra a mostra Gravadores de São Paulo, na 4 Planetas Galeria de Arte (com texto de apresentação de José Geraldo Vieira); figura também no 15º Salão Paulista de Arte Moderna e na coletiva Artistas Unidos, que marca o reinício das atividades do Clubinho (Clube dos Artistas e Amigos da Arte), na rua Bento Freitas.

Em dezembro, participa da 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, no convento de Nossa Senhora do Carmo, em Salvador. Antonio Henrique é o artista paulista com maior número de obras na Bienal, quatro pinturas, com as quais ganha prêmio de aquisição. Integraram o júri de seleção e premiação Clarival do Prado Valladares, Mário Pedrosa, Mário Schemberg e Wilson Rocha. Maria Eugênia Franco escreve no jornal O Estado de S.Paulo sobre a “predominância da pop art, da nova figuração e do novo realismo, em todos os níveis de criação e produção, de proposta consciente ou gratuita”. E chama atenção para a participação do artista na exposição: “Entre muita coisa com a preocupação de uma artificial novidade, destacavam-se na pintura Maurício Nogueira Lima e Antonio Henrique Amaral, por uma linguagem agudamente satírica e plasticamente bem executada”.[13]

Conhece o poeta e crítico Ferreira Gullar.

1967

Em agosto, lança o álbum O meu e o seu, contendo sete xilogravuras em cores. Segundo o artista, a ideia inicial era fazer uma série denominada “Os 7 pecados capitais da nossa época, mas sete não seriam suficientes para os nossos pecados”. Assim, adota como tema as “idolatrias espúrias, os fantasmas da nossa sociedade: Madona, O idolatrado, Um + um = dois?, Realidades, culpas?, Personagem contemporâneo, Sem saída, Passatempo séc. XX”. O lançamento ocorre na Galeria Mirante das Artes, a convite de Pietro Maria Bardi, ocasião em que também são expostas as matrizes. O texto que acompanha o álbum é de Ferreira Gullar:

Agora basta, ele nos parece dizer, vou falar tudo. Vou denunciar as idolatrias espúrias que entorpecem o povo, os fazedores de guerra que trazem nas mãos as bandeiras da paz e da prosperidade, a falta de amor, a hipocrisia, a miséria da vida fechada em compartimentos estanques. Mas ele não o faz com a facilidade dos que apenas acusam. Ele está envolvido em tudo isso, ele é um homem entre os outros homens. Ele, na verdade, nos chama para, juntos, procurarmos uma vida melhor. Porque, se assim vai o mundo – como dizia Brecht –, o mundo não vai bem.

O álbum também é lançado no Rio de Janeiro, na Galeria Santa Rosa, dirigida por Rubem Braga.

Em outubro, faz sua primeira individual de pintura na Galeria Astreia, na praça Ramos de Azevedo (São Paulo), com 30 trabalhos da série “Bocas”, realizados entre 1965 e 1967. Para a mostra, redige o texto do catálogo, em que fala sobre a nova experiência como pintor:

Pintor, para mim, é o homem que busca integrar-se através das artes. Faço desenhos, gravuras, aquarelas, guaches e óleos. [...] Friso esse ponto pela esperada e inevitável comparação que se fará entre meu trabalho em gravura e minha pintura atual. Tenho plena consciência de que gravo há dez anos e pinto há dois. [...] Não me preocupo com Vanguardas nem com Retaguardas. Parecem-me, inclusive, expressões bastante bélicas. [...] a Arte não avança; transforma-se, evolui de acordo com quem a faz, seu lugar e sua época. [...] Cada um destes quadros foi feito porque tinha que ser feito. Uns chegaram mais perto daquilo que eu queria. Outros, não. Selecionei os que gosto mais e não os “melhores”. Não espero minhas obras- -primas para fazer uma exposição. Apenas chegou a hora de mostrá-los. Estes que aqui estão.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o artista fala da nova produção:

Pode-se verificar, por exemplo, que nos óleos de 1965 existe um grafismo acentuado, que lembra muito minhas gravuras. Já nas deste ano, há maior preocupação com a cor. Estou começando a pintar, tem muito chão pela frente; acho que estou completamente mergulhado nisso. Faço gravuras, pinturas, aquarelas, mas no momento estou tentando dizer alguma coisa através da pintura.[14]

Na Exposición de La Habana 1967, apresentada na Casa de las Américas, em Havana (Cuba), recebe menção de Valor Excepcional, atribuída por um júri internacional: Edmond Rahal (Colômbia), Eduardo Bonatti (Chile), Fernando Chueca (Espanha), José Gamarra (Uruguai) e Juan David (Cuba).

Integra a 3ª Bienal Americana de Grabado em Santiago (Chile).

Em São Paulo, participa do 16º Salão Paulista de Arte Moderna e da 9ª Bienal Internacional de São Paulo, com significativo conjunto de obras produzidas nesse ano: seis xilogravuras – “Quoque tu, Brutus?”, Passatempo latino-americano, O apetite, A grande mensagem, A mesma língua e Monumento século XX – e três pinturas – Monumento século XX, Pressões e Incomunicação.

Participa da 1ª Exposição Jovem Arte Contemporânea (JAC), no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Integram o júri de seleção Caciporé Torres, José Geraldo Vieira e Walter Zanini, diretor da instituição e organizador da mostra. Antonio Henrique expõe as pinturas Espetáculo, O gerente e Reflexão.

Entre outras coletivas desse ano, destacam-se o 24º Salão Paranaense de Belas-Artes, no qual apresenta três gravuras do álbum O meu e o seuO idolatrado (prêmio Amélia Assumpção), Realidades, culpas e Um + um = dois – e três pinturas – 37, 37, 37, Incomunicação I e Incomunicação II; e o 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, no qual é selecionado na categoria gravura (com Gênese, A farsa e A mesma língua) e na categoria pintura (com Mediação, General Manager e Nós nos amamos). Integram o júri de seleção Clarival do Prado Valladares, Frederico Morais, Mário Barata, Mário Pedrosa (presidente) e Walter Zanini.

Entre dezembro e janeiro do ano seguinte, integra a coletiva Kunstenaars Van nu uit – Amsterdam-Brazilië, organizada por Marc Berkowitz e apresentada na Bols Tavern, em Amsterdã (Holanda).

1968

Com a morte do pai, Antonio Henrique se vê responsável pelo sítio em Atibaia. Com Ligia, muda-se para lá, criando galinhas e pintando.

Surgem as Bananas. Ao escritor Ignácio de Loyola Brandão, conta, mais tarde, como foi o “clique das bananas”:

Não posso explicar, sei que de repente eu estava pintando bananas. Quem sabe foi o falo de O Rei da Vela [montagem de José Celso Martinez Corrêa, que vira em setembro de 1967, no Teatro Oficina, em São Paulo], aquele canhão, lembra-se? Ou então o clima de deboche que comecei a ver, o golpe militar, o AI-5, Feira Paulista de Opinião criticando tudo – entrei no palco empunhando uma banana gigante – a agitação política. Tudo se confundia com meu estilo de vida delirante, Ligia e eu éramos Scott Fitzgerald e Zelda, dois desvairados. Disso nasceu a banana. Estávamos todos muito por baixo, no Brasil, marginalizados. Nada era sério. A questão era levar a sério o não ser sério. A banana nasceu do medo. De uma coisa tenho consciência: com a banana e através dela fui aprendendo a linguagem da pintura.[15]

Faz apenas uma individual, apresentando guaches – datados de 1962 a 1967 – na Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna de São Paulo, com apresentação de Fabio Magalhães.

No entanto, participa de importantes coletivas no Brasil e no exterior. Entre as mostras internacionais, destacam-se Exposición de La Habana ’68, na Casa de las Américas, em Havana (Cuba), onde expõe gravuras do álbum O meu e o seu; e Sixteen Brazilian Artists, apresentada na Richard Demarco Gallery (Edimburgo, Escócia) e na Crossley Gallery (Melbourne, Austrália). O catálogo tem texto de apresentação de Jayme Maurício.

No Brasil, participa do 2º Salão Esso de Artistas Jovens (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro) com três gravuras – Alegria, alegria, Consensus e Impasse – e do primeiro Panorama da Arte Atual Brasileira, realizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, com dois óleos.

É premiado em outros salões pelos quais é selecionado: 17º Salão Paulista de Arte Moderna, de que participa com duas obras, uma elas, Brasiliana – Litoral – 2, premiada com medalha de ouro (hoje conservada na Pinacoteca do Estado de São Paulo); 2º Salão de Arte Contemporânea de São Caetano do Sul, apresenta, na categoria arte gráfica, Impasse, Consensus e Alegria, alegria, e na categoria pintura, Monumento séc. XX, Incomunicação (1º prêmio de pintura, obra hoje conservada na Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul) e Pressões; 17º Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, com certificado de isenção de júri; 4º Salão de Arte Contemporânea de Campinas, com Brasiliana 1 (prêmio Prefeitura Municipal de Campinas, obra hoje conservada no Museu de Arte Contemporânea José Pancetti), Brasiliana 2 e Brasiliana 3; 1º Salão Oficial de Arte Moderna de Santos, em que apresenta Brasiliana I (prêmio Câmara Municipal de Santos), Brasiliana II e Brasiliana III; 25º Salão Paranaense de Arte, no qual ganha o prêmio Governador do Estado com Brasiliana III (hoje conservada no Museu de Arte de Curitiba).

No dia seguinte à decretação do Ato Institucional n. 5, chega às bancas a revista O Cruzeiro, com o artigo “Marginália – Arte e cultura na idade da pedrada”, da jornalista e fotógrafa Marisa Alvarez Lima. Antonio Henrique é fotografado com Os Mutantes, ao lado da escultura 1964: O desabrochante (hoje destruída), durante a 1ª Feira Paulista de Opinião, realizada em meados do ano, no Teatro Ruth Escobar (São Paulo), com a presença de vários artistas.

Ainda no mês de dezembro, durante a 2ª Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, em Salvador, várias obras são apreendidas pela Polícia Federal, inclusive uma gravura de Antonio Henrique, da série “Generais”.

Com obra doada pelo artista ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, participa da mostra 28 Artistas do Acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, apresentada no Diário da Serra (Campo Grande) e, no ano seguinte, no Centro de Artes Visuais Raimundo Cela (Recife). A exposição tem organização e texto de Walter Zanini.

É eleito para o conselho brasileiro da Associação Internacional de Artistas Plásticos (AIAP), da qual fazem parte Antonio Carelli, Donato Ferrari, Fabio Magalhães, Gontran Guanaes Netto, Marcello Nitsche, Maurício Nogueira Lima, Miriam Chiaverini, Odetto Guersoni, Samuel Szpiegel e Sérgio Ferro.

1969

Apresenta a série “Brasiliana” em duas individuais: em agosto, na Galeria Astreia (São Paulo), e em setembro, no Hotel Copacabana Palace (Rio de Janeiro). Em ambos os catálogos, o texto é de Ferreira Gullar:

Estas obras são, para seu autor, um avanço, tanto formal quanto temático. Nestes quadros, a expressão encontra formas menos explícitas e, por isso mesmo, mais despojadas e mais densas, às vezes de extraordinária intensidade. Tal contenção e tal riqueza implícita resultam de (e determinam) uma superação maior do individualismo, da subjetividade: maior equilíbrio entre os conteúdos pessoais e coletivos.

O crítico do jornal Diário de Notícias Frederico Morais escreve:

Antonio Henrique Amaral deu uma guinada tropicalista. Não para aderir à moda, mas para refletir efetivamente sobre o tema. É assim que a banana, elemento prosaico, quase despercebido das naturezas-mortas, adquire a condição de personagem. Isoladamente ou formando cachos, as bananas são monumentalizadas, agigantadas, como que a lembrar aquelas figuras antropofágicas de Tarsila do Amaral – plantadas no solo com cactos ou bananeiras, sob um sol luminoso e numa paisagem vazia.[16]

Jayme Maurício também escreve sobre a mostra, no Correio da Manhã:

O brasilianismo do artista está longe de ser um brasilianismo de sombra e água fresca ou de perfumes tropicais. Não há tampouco sinal de degenerescência ou decomposição nesse mundo brasiliano. Nele reflete-se apenas a fase expansionista e pujante do processo natural. Desse modo, as próprias conotações sexuais da temática – tão surpreendentemente apontadas por muitos – surgem com a maior espontaneidade, em virtude de uma irresistível força interior: não são postiças, não são intencionais, não são absolutamente sensacionalistas, a despeito do modo cru, direto e até indisfarçado com que são frequentemente vistas.[17]

A Associação Internacional de Artes Plásticas (AIAP) promove o evento E Agora?, com exposição e debates no Teatro Anchieta, em São Paulo. Na primeira noite, Antonio Henrique participa ao lado de Anésia Pacheco e Chaves, Aldir Mendes de Souza e Samson Flexor, tendo como debatedores Aracy Amaral, Mário Chamie, Paulo Emílio Salles Gomes, Romy Fink e Vilém Flusser. O evento conta ainda com a participação dos artistas Ely Bueno, Mira Schendel, Maria Bonomi, Luís D’Horta e Waldemar Cordeiro e dos debatedores Maria Eugênia Franco, Lygia Fagundes Telles, Haroldo de Campos e Isaac Epstein.

Antonio Henrique é premiado nos seguintes salões: 18º Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, no qual apresenta Brasiliana Rio I, II e III (certificado de isenção de júri); 2º Salão de Arte Contemporânea de Santo André, no qual recebe o prêmio Cidade de Santo André, com a obra Brasiliana (hoje conservada na Casa do Olhar Luiz Sacilotto/Secretaria da Cultura de Santo André); 3ª Exposição Jovem Arte Contemporânea (JAC), no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, no qual apresenta Brasiliana 9 (prêmio de aquisição), Brasiliana 10 e Brasiliana 11.

Integra também o Salão da Bússola, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e o 1º Salão Paulista de Arte Contemporânea, no qual apresenta Brasiliana II, Brasiliana azul e Brasiliana II-1.

1970

Em janeiro, participa da 1ª Bienal de San Juan del Grabado Latinoamericano y del Caribe, no Instituto de Cultura Puertorriqueña, em San Juan (Porto Rico).

Em março, expõe gravuras em mostras individuais na Galería Círculo 3, em La Paz, e no Centro Pedagógico y Cultural Portales, em Cochabamba (Bolívia). Visita Machu Picchu e o altiplano boliviano.

Fui ver minha filha e aproveitei para fazer uma exposição de gravuras na galeria da minha ex- -mulher, Norha Beltrán, comissária da Bolívia na última Bienal, e foi sensacional. [...] embora não as tenha vendido, as gravuras das Bocas e dos Generais fizeram um certo sucesso entre artistas e estudantes. Fui convidado para expor em Cochabamba. [...] Ficamos hospedados no Palácio de Portales, ex-mansão de Patiño, hoje uma fundação cultural financiada pelo filho de Simón Patiño, desde Genebra. De Cochabamba, onde dei charlas sobre arte brasileira, viemos para o Brasil. [...] Um mês de uma fascinante viagem. [...] talvez eu volte à Bolívia para fazer umas tapeçarias com uns camponeses que conheci em um pueblo.[18]

Enquanto viaja, suas obras integram o Panorama da Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Delmiro Gonçalves, diretor da Pinacoteca do Estado, adquire para o acervo da instituição a obra Brasiliana – Litoral – 2 (1968), apresentada na exposição.

Em maio, já de volta a São Paulo, participa de coletiva na Galeria Bonfiglioli, com obras de Gerda Brentani, Odetto Guersoni, Pedro Tort e Tomie Ohtake. Expõe nove telas. A coletiva ganha destaque na crítica de José Geraldo Vieira para o jornal Folha de S.Paulo, associando a obra de Antonio Henrique à “pintura didática”:

As exposições ora em curso nesta capital prestam-se a considerações sobre a chamada pintura didática, em contraposição à chamada pintura do absurdo, tal como, em teatro, a casuística de Brecht em oposição à casuística de Ionesco. Pintura didática seria, assim, não (como o nome pode parecer) aquela que serviria de modelo propedêutico à arte de pintura em frontalidade ou em perspectiva para a obtenção de efeitos objetivos ou abstratos. E sim seria, e é, a pintura que visa à vida real, restringindo-se à situação-limite do nosso Da Sein, o Estar-Aqui dos existencialismos; aquela pintura que, por querer ser didática, ensina a ver e a sentir o mundo e o homem, a natureza e as suas manifestações.[19]

Em junho, inicia a execução de um mural de 2 x 9,5 metros, para a sede social do Clube Harmonia de Tênis. Encomendado pelos arquitetos Fábio Penteado e César Luís Pires de Mello, o mural é inaugurado no mesmo ano e ganha destaque na revista Acrópole, em maio do ano seguinte.

Em carta de 10 de julho de 1970 a João Marschner, fala da execução do mural em meio aos jogos da Copa do Mundo:

Foi a Copa mais etílica da minha vida, [...] duríssima, que me exigiu um fígado de ferro e uma saúde de leão, pois nos intervalos de cada jogo eu fazia o famoso painel, que acabei ontem. Vou para o Rio depois de amanhã, [...] vou me inscrever num concurso para um painel 12 vezes maior do que este que eu fiz aqui em São Paulo: um painel de 8 x 30 metros, na Caixa Econômica Federal. [...] Só que tenho oito dias para apresentar o projeto.

Antonio Henrique se refere ao concurso, do qual participam mais de 100 concorrentes, para painel destinado ao novo e imponente prédio da Caixa Econômica Federal, na avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. “Meu projeto está pronto, com maquete de acrílico e outras bossas.” Em carta ao primo, em setembro, diz: “Espero sem muita esperança o resultado do concurso do painel da Caixa Econômica Federal do Rio. Muita fofoca. E política lá no Rio, com as cartas marcadas”. De fato, o jornalista do Jornal do Brasil, Walmir Ayala, menciona o catastrófico resultado da premiação.

Sobre sua participação no 19º Salão Nacional de Arte Moderna (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), comenta:

Logo que cheguei, tive que ir ao Rio levar os quadros para o Salão Nacional de Arte Moderna [...] terrível expectativa, pois meu nome e fotos de quadros meus apareciam em todos os jornais de Rio (Correio, Jornal do Brasil) como grande favorito, junto com Vergara, Colares, Wanda Pimentel, João Câmara e Espíndola.[20]

Sobre a premiação, o jornalista Francisco Bittencourt escreve: “Foi justa a premiação de Raymundo Colares, mas outros artistas também mereciam, entre eles, Antonio Henrique Amaral e Dileni Campos”.[21]

O artista expõe também em Porto Alegre, no 1º Salão de Artes Visuais, e em Belo Horizonte, no 2º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte. Neste último, recebe o prêmio de aquisição Prefeitura de Belo Horizonte, com a obra BR – MG – 1 (hoje conservada no Museu de Arte da Pampulha). Integram o júri Angelo Oswaldo de Araújo Santos, Celma Alvim, Humberto Espíndola, Sérgio Ferro e Márcio Sampaio, que escreve:

Antonio Henrique Amaral retifica a linha da antropofagia (e a fome): monumentaliza a banana como Oldenburg e seu pop foods. Santifica a banana, institui um novo deus, a Banana: verde, amarela, a banana é um querer, uma forma de dizer o nosso amar a nossa terra. E nos pistilos, falamos nossa ginga na língua que nos deram iés, nós temos banana, banana pra dar e vender.[22]

Em dezembro, outra importante premiação, dessa vez no 2º Salão Paulista de Arte Contemporânea. Recebe prêmio revelação com a pintura BR-1 (obra que passa a integrar o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo no ano seguinte), além de apresentar BR-2 e BR-3. Integram o júri de seleção e premiação Anésia Pacheco e Chaves, Izar do Amaral Berlinck, Lisetta Levi, Norberto Nicola e Wolfgang Pfeiffer, que escreve também a apresentação do catálogo.

Sobre BR-1 SP, Aracy Amaral, quando diretora da Pinacoteca do Estado, escreve:

Distantes da função decorativa desempenhada pelas frutas em naturezas-mortas de fins do século XIX entre nós, estas bananas afloram na tela com qualidades anímicas, parecendo incorporar em seu gigantismo algo da heroica ou mítica personalidade brasileira. A tela recebeu pintura lisa, espatulada, de cores puras em grandes áreas, seguindo-se um tratamento proposto de cores próximas às primeiras (pretos/marrons/amarelos/ocres, verdes), daí resultando um realismo simplificado, gráfico e que se integra nas tendências gerais da Nova Figuração dos anos 60.[23]

1971

Em maio, apresenta 26 pinturas em individual na Galeria Bonino (Rio de Janeiro), com o título Bananas. Aliás, o nome não podia ser outro. Em entrevista concedida no mesmo ano, Amaral diz que, nos últimos três, só uma vez não pintou bananas. Pintou mamoeiro. Flávio Motta assina o texto de apresentação no catálogo:

Agora, as últimas bananas são vistas sobre pratos ou em fundos mais envolventes. Na solidão, vivem mais comprometidas com seu derredor. Elas parecem cozidas pelo tempo, mais podres, mais refinadas como pintura, como trabalho. São mais graves, solenes, sofridas. Devolvem a veracidade e já dizem das violências maiores que atingiram o despertar de uma geração, num país tropical e em outros não tropicais.

Em julho, é finalmente premiado no 20º Salão Nacional de Arte Moderna. Apresenta os óleos Sequência 1, Sequência 2 e Sequência 3 e ganha prêmio de viagem ao exterior. Integram o júri Aluísio Carvão, Benjamim Silva, Carmen Portinho e Joaquim Tenreiro. Em crítica no Jornal do Brasil, Walmir Ayala elogia a colocação das obras do artista: três telas de grande formato logo na entrada do salão do Palácio Gustavo Capanema. Harry Laus escreve sobre a premiação:

O recado das bananas está sendo muito bem dado. Se a pop art americana (do Norte) tem a lata do “Savarin Coffee” como expressão, em Jasper Johns, ou a garrafa de Coca-Cola, em Robert Rauschenberg, por que nosso pop não poderá ter bananas? Além desse conteúdo “pop”, a pintura de Antonio Henrique Amaral tem outro elemento atual na sugestão da publicidade urbana, do cartaz de rua, onde o gigantismo do produto anunciado assume as proporções do fantástico.[24]

O artista fala ao Jornal do Brasil sobre as Bananas:

Elas, para mim, são uma análise e conclusão cultural. A banana, como todo o trabalho que desenvolvi na gravura, foi sempre uma visão satírica da condição humana. Mas, como símbolo riquíssimo, lembra muitas coisas, tem certo ineditismo da sua condição ligada ao tropicalismo. O enfoque bananas monumentaliza o cotidiano e ganha uma dependência de arte e de meios.[25]

Após a premiação, acontecem outras três individuais no exterior. Em setembro, The Banana: Variations in Oil by Antonio Henrique Amaral of Brazil, na Pan American Union, em Washington (EUA), em que são apresentadas 25 telas. O texto do catálogo é de autoria de José Gómez-Sicre. Em outubro, La Banana, na Galeria Mer Kup, na Cidade do México (México), e em novembro, The Banana, na Elvaston Gallery, em Londres (Inglaterra). O artista lembra-se do vernissage: “Na inauguração, foi servido coquetel de banana, caipirinha de banana e havia macaquinhos vestidos de verde e amarelo (alugados na Carnaby Street), que ficavam pulando no ombro das pessoas. Foi um sucesso!” A exposição despertou grande curiosidade dos colunistas do Daily Telegraph e do Daily Express Evening Standard e foi comentado pela crítica Cottie Burland na Arts Review: “Parece absurdo afirmar-se que exista beleza em bananas, mas o que se observa aqui é um agudo contraste entre ideias condicionadas e o fato da arte. Uma visita a esta pequena galeria de South Kensington vale por uma lição de filosofia em torno da pintura”.[26]

1972

De volta ao Brasil, depois de quatro meses de viagem, o artista faz a seguinte reflexão:

A Europa é o passado que nós não tivemos, a sede dos impérios de que fomos colônia. A viagem vai-se refletir em meu trabalho porque me deu uma nova perspectiva do que acontece aqui. De lá, se vê a realidade brasileira de outros ângulos. Nota-se que lá os problemas elementares já foram resolvidos, enquanto aqui ainda temos de, neuroticamente, tratar de sobreviver. É nessa constante atmosfera de crise e caos que temos de tentar trabalhar e produzir. Essa experiência de viagem é importante, e as alterações vão aparecer futuramente, mas sempre partindo do meu compromisso com a realidade.[27]

Em abril, novamente em viagem, expõe individualmente a série “Brasiliana” na Galerie du Théâtre, em Genebra (Suíça), e, em maio, na 3ª Bienal de Arte Coltejer, em Medellín (Colômbia), integrando a representação brasileira, ao lado de Almir Mavignier, Danilo Di Prete, Franz Weissmann, Humberto Espíndola, Jacques Douchez, José Resende, Manabu Mabe, Marcello Nitsche, Marcia Demange, Márcio Mattar, Nicola, Ricardo Augusto, Wanda Pimentel e Wesley Duke Lee.

Em junho, integra coletiva de tapeçarias na Galeria Cosme Velho. As duas tapeçarias do artista, de motivos tropicais, foram vendidas. Uma delas é inspirada na tela BR-1 SP (1970).

De volta ao Brasil, faz individuais em Brasília, na Galeria Mainline (de Oscar Seraphico), com texto de Hugo Auler, e em Santos, no Centro Cultural Brasil-Estados Unidos.

Participa também da coletiva Arte/Brasil/Hoje: 50 Anos Depois, realizada na Galeria Collectio (São Paulo), com curadoria de Roberto Pontual (o livro sobre a exposição é lançado no ano seguinte, durante ciclo de encontros com críticos de arte).

Em dezembro, Antonio Henrique realiza uma importante individual na Galeria Bonfiglioli (São Paulo), na qual apresenta 21 telas. A mostra recebe o prêmio de melhor exposição de pintura de 1972 da Associação Paulista de Críticos de Arte. Arnaldo Pedroso D’Horta dedica crítica à exposição:

Nesta sua última fase, os frutos adquiriram uma grandeza, uma dramaticidade até então insuspeitas, principalmente em seus últimos trabalhos, a que acrescenta um elemento novo, a corda enrolada às bananas. [...] A intimidade do artista com seu assunto chega ao ponto maior em Na corda e em Grande detalhe, nos quais entrevemos os mistérios da germinação, nas frinchas recônditas em que ocorre a frutificação junto às ramificações pedunculares do tronco – são belas transposições e revelações dos segredos da Natureza, em sua fantasia elaboradora.[28]

1973

Em janeiro, embarca para os EUA “com o peito, a coragem e mais 500 dólares mensais de bolsa”, em razão do prêmio obtido em 1971. Instala-se em Nova York com Ligia. Fica 15 dias no Chelsea Hotel, depois aluga um studio na 20th Street, esquina com a 3th Avenue (em Gramercy Park) e trabalha num pequeno ateliê na Broadway, até que surge a possibilidade de alugar um espaçoso loft no SoHo, na Greene Street, e mais tarde, na Spring Street. Trabalha com regularidade, pintando dez horas por dia (o artista lembraria mais tarde, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que pintou 60 telas nos dois anos em que ficou nos EUA).[29]

Inicia os Campos de batalha, ponto alto de sua trajetória e de suas especulações estéticas. Mais tarde, Frederico Morais analisaria a produção, em livro dedicado ao artista:

As mudanças de colorido com a entrada dos cinzas e pretos, baixando os tons, coincidem com os momentos mais sóbrios da repressão política no Brasil. A banana abandona seu habitat natural, passando a frequentar, agora sozinha, os espaços confinados da repressão e da tortura.[30]

Com os Campos de batalha, surge também uma nova metodologia de trabalho, tendo a fotografia como base: o artista não parte apenas de um elemento da natureza, mas também de sua imagem fotografada. E, como imagem, ela pode ser ampliada, enquadrada, manipulada, explorando-se cortes e detalhes.

Convive com artistas latino-americanos estabelecidos em Nova York, como Armando Morales, Enrique Castro-Cid, Julio Alpuy, Leonel Góngora (de quem faz um retrato no ano seguinte), Marcelo Bonevardi, María Luisa Pacheco, Mario Toral, Marisol, Molinari Flores, Omar Rayo, Paternostro, Rafael Bogarín, Rodolfo Abularach e outros. Com vários deles, integra coletivas nos EUA, como Tropic of Cancer – Tropic of Capricorn: Contemporary Latin American Art, apresentada em fevereiro, na galeria de arte da University of Massachusets at Amherst, na qual Góngora é professor e autor do prefácio do catálogo. A exposição tem curadoria de Jacqueline Barnitz. A mostra é bem recebida pela crítica. O jornal The Arts destaca dois nomes na exposição: Fernando Botero e Antonio Henrique Amaral. Lee Sheridan também escreve artigo no Springfield Daily News elogiando o trabalho do artista.

Em carta endereçada a Diná Lopes Coelho, diretora do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o artista fala de seu sucesso: “Esteve aqui o Lee Ault, dono da Lee Ault Gallery (fundador da revista Art in America e um dos donos do Grupo Vision, milionário que tem em sua coleção Chagall, Braque, Picasso etc.), gostou muito, comprou quatro e está vivamente interessado em possivelmente organizar uma exposição minha em maio de 74”.

Também integra a importante Young Artists ’73, apresentada em julho, no Union Carbide Building, em Nova York, ao lado de Miriam Chiaverini, Anna Bella Geiger e Janine Schmitt. Na exposição Tribute to/Homenaje a Picasso, na Organização dos Estados Americanos – OEA, em Washington, participam 24 nações, um artista por país, cada um com uma obra. Antonio Henrique representa o Brasil com Banana e corda. A mostra tem curadoria de Galo Plaza. Figura ainda na mostra Latin American Painting, apresentada no Queens Cultural Center, em Nova York, na qual o Brasil é representado por Manabu Mabe e Antonio Henrique Amaral.

Em setembro, apresenta-se individualmente na Galería San Diego, em Bogotá (Colômbia). Com sucesso de vendas na exposição, viaja para Cartagena das Índias, onde conhece o escritor Gabriel García Márquez e o pintor Alejandro Obregón. De lá, parte para Porto Rico (de “vacaciones”) e, por sugestão de José Gómez-Sicre, visita o colecionador José Martínez-Canãs. Voltam a se encontrar em 1986, nos EUA, e passam a trabalhar juntos em 1989, na Elite Fine Arts, em Coral Gables.

A convite de Diná Lopes Coelho, envia, em outubro, três telas – Grande detalhe, Momento Sul II e Momento Sul III – para o Panorama da Arte Atual Brasileira/Pintura, no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

1974

Em fevereiro apresenta 17 telas (13 da série “Campo de batalha”) em individual na Lee Ault & Co. Gallery, em Nova York. O primeiro a escrever sobre a série é o filósofo Vilém Flusser, depois de ter visitado o ateliê do artista no ano anterior. Escrito originalmente em inglês, o texto, “Battlefields”, é publicado no ano seguinte em português, na revista Artes (n. 43, jul. 1975), de Carlos von Schmidt:

Por suas qualidades estéticas (atitude fenomenológica), estas pinturas se tornam eticamente relevantes: elas são “verdadeiras” em relação à situação a que se referem e, portanto, “eficazes” para aquela situação. Por suas qualidades estéticas, elas se tornam tecnicamente sólidas: elas nos convencem da possibilidade da utilização de um material tradicional (óleo sobre tela), pois revelam esteticamente suas potencialidades. Por suas qualidades éticas, elas são esteticamente relevantes: sendo “verdadeiras” em relação a um significado que as transcende, estas imagens se tornam suficientemente interessantes para serem contempladas. Por suas qualidades éticas, elas são tecnicamente substanciais: vale a pena experimentar com bananas porque elas significam algo que as transcende.

A exposição é muito bem-sucedida – “Representantes do Museu Guggenheim e do Museu de Arte Moderna foram ver minha exposição e visitaram meu ateliê, manifestando interesse pelo trabalho” – e tem repercussão também no Brasil.

1975

Em janeiro, retorna ao Brasil e instala-se em São Paulo. Passa a viver num pequeno estúdio na rua Sampaio Vidal.

Em depoimento sobre o impacto do período vivido nos EUA e o problema da censura no Brasil, diz:

Esse impacto com a nova realidade, com esse fervilhamento de coisas, é realmente da maior importância, e a pessoa aprende a selecionar, mais porque a informação é tanta, que você não pode digerir tudo [...] aqui, isso não acontece, por diversos problemas, e um deles é a censura. Acho extremamente castrativo o problema da censura de expressão artística. Esse é um problema que atua não só na área política (como é o objetivo das autoridades), mas ele atua violentamente no poder criativo do artista. Isso é tragicamente doloroso e tira a força criativa de uma geração. Isso, nos Estados Unidos e na Europa, não acontece, e você pode sentir todo o impacto das forças criativas, o que é muito emulativo. É muito bom para você.[31]

Durante sua estadia brasileira, Antonio Henrique teve obras apresentadas na galeria Lee Ault & Co. Gallery, em Nova York, ao lado de trabalhos de Alex Kosta, Will Horwitt e Armando Morales.

Em março, Antonio Henrique expõe 15 telas, entre elas, vários Campos de batalha, em individual na Galeria Bonfiglioli (São Paulo). O crítico Olívio Tavares de Araújo escreve à revista Veja sobre a série de pinturas feitas nos EUA e apresentadas pela primeira vez no Brasil (a matéria é ilustrada com Campo de batalha 10 e 29):

Nas obras agora expostas, resultantes de uma intensa experiência vivida no exterior, os indícios de Antonio Henrique vão mais longe. Às cordas ainda presentes, ele acrescenta garfos e facas – instrumentos de cortar e perfurar –, metalicamente incisivos, que agridem as bananas com uma inclemência evidente. A cor cinza irrompe em várias telas, e em alguns casos as domina. Os quadros se intitulam sistematicamente “Campo de batalha”. E num deles – o de número 29 –, a superampliação de um detalhe descaracteriza deliberadamente o assunto. As pontas do garfo que emerge de uma banana parecem pertencer a uma paisagem de science-fiction e transmitem uma sensação de aprisionamento e angústia. Não há dúvida, pois, de que a pintura de Amaral se serve de um conjunto de metáforas, no qual a banana simbolizou, desde o início, o elemento tropical – talvez a própria latino-americanidade. [...] Embora lidando com frutos, pratos e talheres (aparentemente tão corriqueiros), Amaral procura falar do ser humano, das Américas e de suas contingências específicas no momento presente.[32]

Em abril, apresenta 16 pinturas em individual na Galeria Bonino (Rio de Janeiro), com igual sucesso de crítica e público. No catálogo, publica trecho do texto de Vilém Flusser, até então inédito em português. Também em abril, suas obras são apresentadas em individuais no Birmingham Art Museum e no Nashville Fine Arts Center, nos EUA.

Por meio da doação de Barbara Duncan, duas obras de Antonio Henrique ingressam no Archer M. Huntington Museum (hoje incorporado ao Blanton Museum of Art Latin American Collection), da University of Texas at Austin: Alone in Green, de 1973, e Campo de batalha 31, de 1974. São as primeiras obras do artista a pertencer a um museu norte-americano. Duncan, escreve:

Confrontation has consistently provided the thrust behind Antonio Amaral’s paintings. In essence the artist envisions the agricultural tradition of Brazil as challenged by modern technology. Amaral maintains a tantalizing ambiguity within his canvases and achieves monumentality regardless of actual size. By the juxtaposition of conflicting plastic and symbolic elements, he involves the viewer in the pull and tug of opposites.

Em maio, publica-se o número zero da revista Vida das Artes, que traz entrevista do artista concedida a Harry Laus: Bonitas? Banais? Bananas. Editada no Rio de Janeiro, sob a direção de José Roberto Teixeira Leite, a revista é lançada no Clube dos Marimbás, em Copacabana, e depois no Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Com o casamento em crise, a dificuldade de se adaptar a um Brasil estranho e a ressaca da volta, recorre à análise com Roberto Freire.

Em outubro, expõe no Centro de Estudos Macunaíma (São Paulo) dez telas inéditas: seis Campos de batalha e quatro mais recentes, “em que só sobraram vestígios da banana”.

Em 25 de outubro, morre o jornalista Vladimir Herzog, no DOI-CODI de São Paulo. Antonio Henrique pinta a série “A morte no sábado”.

Em novembro, participa como artista convidado do 10º Salão de Arte Contemporânea de Campinas/Arte no Brasil: Documento/Debate, no Museu de Arte Contemporânea José Pancetti, em Campinas. Organizado por Aline Figueiredo, Aracy Amaral e Frederico Morais, o evento conta também com a presença dos artistas Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Humberto Espíndola, João Câmara, Maria Leontina, Mário Bueno, Mira Schendel, Nelson Leirner, Rubem Valentim, Sergio Camargo e Tomie Ohtake. No ano seguinte, a mostra e os debates acontecem no Rio de Janeiro (Museu de Arte Moderna) e em São Paulo (Pinacoteca do Estado).

1976

Duas exposições antecipam a grande individual do artista no México: sua participação na 3ª Bienal Americana de Artes Gráficas, em Cali (Colômbia), na qual apresenta desenhos recentes, e sua individual no Patronato Pro-Cultura, em San Salvador (El Salvador), expondo 28 pinturas feitas entre 1968 e 1975.

Em junho, o Museo de Arte Moderno, na Cidade do México, apresenta Antonio Henrique Amaral – Pintor Brasileño: Hiperrealismo; Variaciones sobre un Tema Polémico, com 39 telas da série “Bananas” (Brasiliana, Campo de batalha, A morte no sábado) e três recentes: Os metais, as vísceras I e II e A casa de Macunaíma. O catálogo traz apresentação de Fernando Gamboa e textos de Damián Bayón (“Las ‘naturalezas vivas’ de Antonio Henrique Amaral”) e de Frederico Morais (“La selva explosiona dentro del plátano”). Lembrando o impacto de sua visita ao ateliê do artista em Nova York, Bayón escreve:

[...] poco a poco, iba yo comprendiendo el mecanismo: la “cámera” óptica y mental del pintor se aproxima más y más a su “naturaleza viva” en un close-up detallado y cruel. [...] Cada vez el travelling se acerca más y más a la fruta obsesiva. [...] Más tarde, es verdad, han quedado sólo las armas de la tortura y así se ven ahora en primer plano los curvos, cruzados dientes de los tenedores que forman una selva, una selva que es al mismo tiempo una cárcel. Aunque la “víctima” no aparezca ya más, estamos siempre en lo mismo, ya que son los Instrumentos de la Pasión los que cuentan, como en el inocente, terrible cuadro de Fra Angelico: sádico dulce con menos teatro que Grünewald y, en cambio, con mayor lucidez crítica. [...] Los cuadros de Antonio Henrique Amaral son fascinantes y misteriosos, inacabables de mirar, capaces por sí solos de llenar el muro y de transfigurarlo. No es poco, en los secos tiempos que corren.

Frederico Morais faz um retrospecto do tema das bananas para o público mexicano e aborda a produção recente do artista:

Do interior da banana, explode, em abstrações, a floresta. Verdes intensos, formas pontiagudas, agressivas, emaranhadas, é a selva crescendo monumental dentro da tela, algo a lembrar o chileno Matta. Mais do que nunca – nas dimensões, no fôlego, nas cores, na textura –, Amaral assume o continente, a América do Sul, do sol, do sal, como no poema de Oswald de Andrade. Como se a banana contivesse dentro de si guardada, protegida, a floresta que agora explode diante de nossos olhos. Fascinante. Por ora, é difícil dizer com precisão o caminho que vai seguir a pintura de Antonio Henrique Amaral. Para quem conhece as fases anteriores, a banana persiste; para quem desconhece, a identificação é mais difícil. Tudo indica, porém, que o ciclo da banana está prestes a encerrar-se.

Por ocasião da exposição, El Colégio de México (Cidade do México) adquire Campo de batalha 18 (1974).

Entre as idas e vindas de seu relacionamento com Ligia, nasce Mariana, em 18 de outubro.

Em outubro, no primeiro aniversário da morte de Vladimir Herzog, o artista doa a tela Ainda a morte no sábado ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, então presidido por Audálio Dantas.

Em novembro, o título da individual do artista na Galeria Bonfiglioli é sugestivo – Novos Caminhos 1975/1976. Na primeira exposição pós-Bananas, figuram 22 pinturas. O texto de apresentação do catálogo é de autoria do próprio Antonio Henrique:

[...] os processos mudam, outras necessidades vitais se impõem com certa urgência. Formas e cores começaram a me escapar pelos dedos sem que eu as controlasse ou determinasse; como se um outro “eu” quisesse vir à tona, se manifestar, respirar, a despeito de meus projetos conscientes e do que eu mesmo esperava de mim e de meus trabalhos. [...] Afinal, trata-se de minha vida e, no final das contas, todas as nossas incoerências e contradições deverão fazer sentido. Estamos tentando. E, se não fizer sentido, ficará o registro de uma época absurda e incoerente.

Entre as coletivas daquele ano, duas são no exterior: Latin American Horizons, nos EUA, no John and Mable Ringling Museum of Art, em Sarasota; no Metropolitan Museum and Art Center, em Coral Gables; no Pensacola Art Center; no Museum of Fine Arts, em St. Petersburgo; e no Fort Lauderdale Museum of the Arts. Curadoria de Leslie Judd Ahalander; Arte Brasiliana Secolo XX – Cammini e Tendenze, integrando a Arte Fiera di Bologna, na Itália. A mostra é apresentada também no Brasil, com o nome Arte Brasileira: Figuras e Movimentos, na Petite Galerie (Rio de Janeiro) e na Galeria Arte Global (São Paulo). Frederico Morais escreve o texto do catálogo.

Entre as coletivas apresentadas no Brasil, destacam-se o Panorama da Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo; Edições de Litografias, na Galeria Arte Global, da qual participaram também Elizabeth Etzel, Guilherme de Faria, Maria Bonomi, Renina Katz, Servulo Esmeraldo, Thereza Miranda e Ubirajara Ribeiro; e 7º Salão Paulista de Arte Contemporânea, como artista convidado.

Em 12 de dezembro, Antonio Henrique participa do encontro organizado por Frederico Morais no Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro. Também faz parte, em 20 de dezembro, do debate Artes Plásticas e suas Dependências, da série “Panorama da Cultura Brasileira”, promovido pelo Centro Latino-Americano de Criatividade (Celac). Ao lado do artista, estão presentes Aracy Amaral, Fabio Magalhães e Fernando Lemos, como mediador. O debate acontece no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo.

1977

Dentro de um amplo processo de revisão existencial, Antonio Henrique resolve dar crédito “aos pequenos desenhos que saíam pelos dedos e descontroladamente tudo invadiam”. Inicia uma série de pinturas a partir de pequenos esboços (doodles) que caracterizarão a série “Expansões”.

Em 1973, passei a prestar atenção nuns pequenos registros gráficos que subconscientemente eu fazia em qualquer papel que estava à minha frente. Nessa época, eu pintava a série “Campos de batalha”, pintura realista, objetiva, controlada que quase nada deixava ao acaso. Os pequenos desenhos me saíam pelos dedos e descontroladamente invadiam minhas anotações, endereços de pessoas, listas de coisas para fazer, margens de livros e recados telefônicos. Refleti sobre esse fato: de um lado, uma pintura objetiva e tecnicamente precisa; e de outro, os desenhos subjetivos sem técnica nenhuma e formalmente “subdesenvolvidos”. Pensei sobre a possibilidade de desenvolver o “autor” desse fecundo veio de informações subjetivas a respeito de minha natureza. Investigar esses processos criativos e ver como integrar essas duas formas de expressão. Iniciei uma série de pinturas baseadas nesses desenhos (as “explosões”), numa tentativa constante de integrar as dimensões objetivas da realidade (“Bambus” e “Casas de Macunaíma”).

Em abril, inaugura individual na Galeria Bonino (Rio de Janeiro), com 23 pinturas realizadas entre 1975 e 1977. Com o título “O trabalho prossegue”, o artista assina o texto de apresentação do catálogo. Roberto Pontual escreve sobre a exposição no Jornal do Brasil:

[...] sem perder a qualidade individual de cada trabalho, ele os distribui na galeria como uma amostragem de suas diversas opções no momento, dos diferentes rumos em que pode mergulhar e aprofundar-se de agora em diante, recuperando talvez, dentro de mais algum tempo, o espírito da antiga unidade serial. Nesses quadros, [...] Antonio Henrique vai desde um despedaçamento final da banana (a “lama da banana”, sua matéria orgânica oferecida ao furor das facas e garfos) até o que ali é mais novo: uma entrada na floresta, um encontro com a unidade da terra, o emaranhado da vegetação e os espinhos das folhas que são seus habitantes. [...] A verdade é que continuam ali, nas cores, nas tramas, nos entrechoques do mundo orgânico com o inorgânico, no combate da víscera contra a máquina, no prazer de pintar e, através da pintura, abrir estradas de linguagem.[33]

Em maio, é aberta a coletiva Arte Agora II: Visão da Terra, com curadoria de Roberto Pontual, da qual participam também Antônio Maia, Emanoel Araujo, Francisco Brennand, Frans Krajcberg, Gilvan Samico, Glauco Rodrigues, Humberto Espíndola, Ione Saldanha, Márcio Sampaio, Millôr Fernandes e Rubem Valentim. Ferreira Gullar escreve sobre a nova fase do artista:

Faz tempo que, no âmbito da pintura brasileira, não se verifica uma erupção de vitalidade como a que nos propicia a nova fase do pintor Antonio Henrique Amaral. E o que é importante: não se trata de uma erupção que apenas arrasa o que está à sua volta, mas que constrói. [...] O primeiro contato com essa nova fase do artista, a partir de Transformações (1975), nos comunica uma sensação de euforia pela descoberta de uma nova dimensão expressiva. E a erupção vem daí – ou antes, é isto: o pintor abandona o antigo casulo, rompe as formas habituais, sai voando no espaço colorido que ele próprio inventa. Há uma sadia afobação nessa nova fase de Antonio Henrique Amaral. Ele mistura tudo: formas objetivas da fase anterior com as formas criadas no calor da improvisação atual, o espaço “real” de antes com o espaço imaginário de agora, recursos da linguagem imitativa (sombras, sugestão de volumes) com as cores abstratas nascidas da fantasia.

Também em maio, iniciam-se duas coletivas de que Antonio Henrique participa: Arte Actual de Iberoamérica, mostra organizada pelo Instituto de Cultura Hispánica, no Centro Cultural Villa de Madri (Espanha), com curadoria de Luiz Gonzales-Robles; e Homenaje a la Pintura Latinoamericana, apresentada no Patronato Pro-Cultura, em San Salvador (El Salvador).

Em julho, faz individual na Galeria Guignard, em Porto Alegre.

Em São Paulo, integra a mostra Antonio Henrique Amaral, Claudio Tozzi, Tomie Ohtake, na Galeria Bonfiglioli, na qual apresenta 15 pinturas realizadas entre 1975 e 1977. A crítica e jornalista Sheila Leirner escreve:

Antonio Henrique apurou a técnica, amadureceu o enfoque e atingiu o raro estágio em que a linguagem, personalíssima, se torna inconfundível, e o resultado pictórico acaba por revelar o toque de gênio. Agora, o artista seguramente transcende a alegoria das imagens criativas e exuberantes anteriores e – sem desembocar, entretanto, em qualquer plasticismo inofensivo – envereda pela essência mesma da experiência plástica.[34]

Em dezembro, integra coletiva com obras do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – Metáfora e Transformação da Realidade –, com curadoria de Ronaldo do Rego Macedo.

1978

Em meados do ano, já com o green card, obtido graças à sua contribuição cultural aos EUA, muda-se para Nova York, instalando-se na Greene Street, esquina com a Canal Street. Vive entre o SoHo (Nova York) e o Butantã (São Paulo), onde inicia a construção de seu ateliê, projetado por Ruy Ohtake.

Nos EUA, realiza individuais na Lee Ault & Co. Gallery (Nova York), em fevereiro – na qual apresenta 23 telas datadas de 1976 a 1978 –, e no Brazilian-American Cultural Institute (Washington), em abril, a convite de José Neinstein, diretor do Baci. Ferreira Gullar assina o texto do catálogo desta exposição. Também nos EUA, integra as coletivas The 1978 Latin American Art Exposition (De Armas Gallery, Virginia Gardens), em março, e Latin American Art Show (Great Neck Library, Nova York), em maio.

Participa, na Venezuela, do 1º Encontro Ibero-Americano de Críticos de Arte e Artistas Plásticos, no Museo de Bellas Artes de Caracas, ao lado dos brasileiros Antonio Dias, Antônio Maia, Arcangelo Ianelli, Iberê Camargo, João Câmara, Maria Leontina, Tomie Ohtake e Wesley Duke Lee. No México, integra a 1ª Bienal Iberoamericana, na Cidade do México.

Em 8 de julho, um incêndio no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro destrói cerca 90% do acervo, inclusive Campo de batalha 23, de Antonio Henrique Amaral.

Em São Paulo, integra a 1ª Bienal Latino-Americana (Fundação Bienal de São Paulo), sob o tema “Mitos e Magia”. Antonio Henrique participa em sala especial, com 46 pinturas realizadas entre 1975 e 1978.

1979

Grandes mudanças no plano pessoal: está sozinho, deixando de beber e de fumar, mais crítico, mais sóbrio. Pinta seis polípticos sobre os quais Aracy Amaral escreve:

[...] apaixonado pela origem e desenvolvimento dos processos mentais e criativos, o pintor é um contínuo observador hoje de seu próprio corpo, sobre o qual lê e ausculta, como fonte de sensibilidades que gerarão a expressão artística. A meta diante da qual ele hoje lucidamente se coloca é a transformação de sua temática em função de sua busca em manter desobstruídos os canais de percepção do universo exterior, para que fluam também simultânea e permanentemente irrigados os circuitos interiores, que contribuem, de cada lado do cérebro, para uma harmoniosa autoexpressão. Muitas vezes, essa harmonia de expressão exige uma conscientização – ou uma zona em que aparentemente se percebe uma projeção “pura” do racional – de realidades somadas ao intuitivo do gesto humano. Essa intensa procura de Antonio Henrique foi alvo de uma série de seis imensos trípticos e que tentam, cada um deles, expressar a dualidade dos hemisférios cerebrais direito/esquerdo com a fusão/identidade central tentada com maior ou menor resultado. As grandes superfícies horizontais desses trípticos são contrabalançadas pelas estruturas verticalizantes dos três compartimentos de cada obra, impondo-se, assim, ainda mais uma vez, o “centro” do quadro, que se quer resumo ou energia viva dos mecanismos laterais distintos.[35]

Em abril, apresenta os polípticos na Cayman Gallery, em Nova York, na individual Antonio Amaral: Multiptychs. Assina o texto do catálogo o editor-chefe do jornal Art/World, Bruce Duff Hooton:

In Antonio Amaral’s recent paintings fire races through the very arteries of existence. His multiptych experiences are like twin infernos in which colors burn down the dividing walls. […] Amaral’s shapes derives their immediate history from the industrial, tubular musculature of Fernand Léger, but the energy and dichotomy of spirit are Blakian. […] His interconnecting tissues are like the ends of untied organic knots pounding to retie themselves. It is the drama of division in which Blake’s The Good and Evil Angels [colour print, ink and watercolour on paper, 1795, Tate Gallery, London], are weighed in the balance and both are found to be energy. Amaral has pluged his art into the most secret organs of the earth (“like a sword in a scabbard of meteors, I plunged a turbulent and tender hand to the most secret organs of the earth”*), he scrapes the intestine until he touches mankind (“allow me, architecture, to fret stone stamens with a little stick, climb all the steps of air into emptiness, scrape the intestine until I touch mankind”).

Faz individuais também na Galería Juan Martín (Cidade do México), em setembro, onde apresenta 14 telas de 1979, e na Galeria Bonfiglioli (São Paulo), em novembro, com 22 telas.

No Brasil, apresenta um dos polípticos no Panorama da Arte Atual Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Integra ainda a mostra 70 Gravadores Brasileiros, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, com obra pertencente ao acervo, e Figuração Referencial, no 11º Salão Nacional de Arte Contemporânea de Belo Horizonte.

1980

Antonio Henrique faz três importantes individuais: no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Miami. Em maio, exibe pinturas na Galeria Bonino (Rio de Janeiro). Em texto bastante intimista, “Vocabulário visual, expansões, mudanças, consciência etc.”, o artista apresenta as 20 telas recentes:

Investigar as paisagens dentro da gente e olhar para fora procurando ver o mundo objetivo. Combinar as paisagens do “dentro-fora-aqui-agora”. Viajar para dentro e ocupar nossos espaços “particulares” (de partícula). [...] Identificar nossos mitos, nossas “vozes” e nossos medos; percorrer nossos labirintos em busca de todos os minotauros. Deixar fluir as energias, desobstruir os canais de percepção e expressão: as formas e cores que surgem na pintura, em nossos gestos, nos mecanismos mentais conscientes expressam apenas o final de um processo que ocorreu em sua maior parte em regiões inconscientes.

Em agosto, expõe desenhos na Galeria Luisa Strina (São Paulo). A apresentação no catálogo também é do próprio artista. Sobre essa exposição, a crítica Sheila Leirner escreve:

Os desenhos de Antonio Henrique Amaral na Galeria Luisa Strina têm um interesse duplo. Importam como desenhos em si e como uma etapa distinta de seu conhecido processo de trabalho. [...] os desenhos que apresenta são uma curiosa fusão que enfatiza aqueles registros (didaticamente expostos numa vitrine da galeria) muito mais do que as Explosões, pela própria técnica gestual, automatista mas que não perde o contato com o figurativo, objetivo e real. Afinal, o repertório do inconsciente não é também aquele dos signos cognoscíveis que estão à nossa volta?[36]

Em outubro, apresenta pinturas recentes na Forma Gallery, de Marta Gutierrez e Dora Valdes-Fauli, em Coral Gables (EUA). Integra ainda a coletiva Hommage to Casa de las Américas de Cuba, no Museo del Barrio (Nova York, EUA), ao lado dos brasileiros Arthur Luiz Piza, Flavio-Shiró, Gontran Guanaes Netto e Mário Gruber. O catálogo tem apresentação de Adelaide De Juan e Mario Toral. No Brasil, participa do Panorama da Arte Atual Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

1981

Faz sua primeira viagem a Cuba, onde participa de um simpósio a convite da Casa de las Américas. Conhece Fidel Castro e Eduardo Galeano. A heroica revolução cubana já apresenta sinais de cansaço, e as barbas de Fidel Castro já estão grisalhas. Impressão melancólica.

De maio a outubro, integra diversas coletivas no Brasil e no exterior: Do Moderno ao Contemporâneo, com obras da Coleção Gilberto Chateaubriand, é apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e, no ano seguinte, no Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, em Lisboa (Portugal). Curadoria de Fernando Cocchiarale e Wilson Coutinho; Arte – América Latina – Expo ’81 é apresentada no Centro Portales (Cochabamba) e na Casa de la Cultura (Santa Cruz), na Bolívia. O catálogo tem texto de apresentação de Barbara Duncan; 3ª Mostra do Desenho Brasileiro, apresentada na sala de exposições do Teatro Guaíra, em Curitiba; Pablo, Pablo!: Uma Interpretação Brasileira de Guernica, exposição em homenagem ao centenário de nascimento de Pablo Picasso, apresentada na Funarte, no Rio de Janeiro (no ano seguinte a exposição viaja para Brasília, Curitiba, Porto Alegre São Paulo). A escolha dos 20 artistas é feita por uma comissão composta por Frederico Morais, Geraldo Edson de Andrade e Mário Barata. Amaral apresenta Ainda a morte no sábado; Encontro “Artes Visuales e Identidad en América Latina”, organizado pelo Foro de Arte Contemporáneo, na Cidade do México, do qual participaram Arnold Belkin, Julio Le Parc, León Ferrari e Mirko Lauer, entre outros artistas e críticos da América Latina; na Contemporary Latin American Art in Japan, apresentada no Museum of Modern Art, Osaka (Japão), expõe Cabeça e o orgasmo e Paisagem com interferência metálica.

Em outubro, apresenta óleos em individual na Galeria Grifo (São Paulo). No texto “Antonio Henrique em alto mar”, o crítico Olívio Tavares de Araújo fala da recente produção pictórica do artista:

Se as bananas falavam primordialmente do mundo ao redor, os quadros posteriores começaram a falar primordialmente do universo interno do artista – vindo de dentro para fora, no fragor de emoções. O primeiro resultado desse insight em sentido estrito, desse perceber o interior do próprio ser, foi explosivo e coruscante. A desagregação das formas que partiam do centro para as bordas da tela correspondia não só à fragmentação da investigação tematicamente coerente que o pintor vinha empreendendo até então, mas sobretudo a uma espécie de ruptura de sua identidade, digamos, oficial. Depois, as formas se reorganizaram novamente, mas não mais em função de qualquer ideia ou constante, e sim em função das necessidades de estruturação de cada quadro.

1982

Com Thomas Ianelli e outros, funda a Associação Profissional dos Artistas Plásticos de São Paulo (APAP), “na esperança de criar uma associação em que se discutiriam ideias, conceitos e se gestaria um pensamento político da classe artística em face da moribunda ditadura militar”.

Participa do 3º Salão de Arte Brasileira, organizado pela Fundação Mokiti Okada, em São Paulo. Ganha Prêmio de Viagem ao Japão com Interferências Metálicas II. O júri é composto por Frederico Morais, Wolfgang Pfeiffer, Aldemir Martins e Kazuo Wakabayashi. Integra também a mostra Gravuras e Gravadores, na Pinacoteca Municipal, em São Paulo, com o álbum O meu e o seu, pertencente ao acervo da instituição.

Realiza painel na autoestrada entre El Tigre e Ciudad Bolivar, na Venezuela. Para o projeto de um museu a céu aberto, Rafael Bogarín convida 26 artistas para pintarem outdoors de 2 x 4 metros, distribuídos ao longo da estrada. As pinturas murais estão registradas no livro Arte en la carretera: Museo Vial Renovable Rafael Bogarín, de Juan Carlos Palenzuela (Cuadernos Lagoven, 1982). Os painéis foram destruídos com o passar dos anos. Concebe o tríptico Bambuzal (2,20 x 5,70 metros) para o Banco Itaú, em São Paulo. O óleo Frutas (1982) também passa a integrar a coleção do banco.

1983

Em janeiro, integra a 5ª Bienal del Dibujo, no Museo de Arte Americano de Maldonado (Uruguai), ganhando o Prêmio Diez Años de Bienal. O desenho premiado passa a integrar o acervo do museu.

Em março, embarca para o Japão, usufruindo o Prêmio de Viagem ganho no ano anterior. Depois, viaja para a China, a Índia, Hong Kong, Tailândia, Bali e Cingapura.

Integra a 6th Japan-Brazil Exhibition of Fine Arts 1983/6ª Exposição de Belas-Artes Brasil-Japão, apresentada no Japão – no Tokyo Central Museum (Tóquio), no MOA Museum of Art (Atami) e no MOA Museum of Art (Kyoto) – e no Brasil – na Fundação Mokiti Okada (São Paulo) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A exposição é patrocinada e organizada pela Brazil-Japan Foundation for Plastic Arts, The MOA Museum of Art e The São Paulo Newspaper Co. Os artistas brasileiros foram escolhidos por ocasião do 3º Salão de Arte Brasileira, no ano anterior.

Participa também da Exposição Comemorativa Bicentenário de Simón Bolivar, organizada pela Corporación de Los Andes, em Merida (Venezuela). Antonio Henrique apresenta duas pinturas de 1983: As lutas e A construção.

De volta ao Brasil, faz duas individuais no Rio Grande do Sul: na Galeria Tina Presser, em Porto Alegre, e na galeria de arte da Universidade de Caxias do Sul.

Em São Paulo, a Galeria Bonfiglioli (São Paulo) apresenta sua individual Caminhos de Ontem – Trabalhos de Hoje. O artista expõe obras de todas as fases: um trabalho por ano, de 1957 a 1982 (com exceção de 1964, sem nenhum trabalho), e 20 telas realizadas entre 1982 e 1983. No texto do catálogo, Frederico Morais fala da evolução temático-formal de Antonio Henrique e também de suas pinturas recentes:

Em 1979, comentando uma exposição realizada nesta galeria, escrevi que “a preocupação maior de Amaral, neste momento, é dominar estas formas (que parecem captadas no momento da explosão do antigo edifício cubista), estruturá-las, dar-lhes concretude, corporeidade, compactuá-las com ajuda do desenho e da cor. Fazer uma pintura sólida”. Sua pintura atual confirma esses prognósticos: energia de volumes, matéria sem bonitezas no brilho forte, viril. As formas, oriundas de seus pequenos desenhos (taquigrafia interior), consolidam-se no espaço da tela, forma e espaço estão agora bem delimitadas, adquirindo consistência próxima do tridimensional, as sucessivas molduras internas ameaçadas pela figuração que quer romper e expandir sua energia original.

Sheila Leirner comenta a exposição salientando a “ambivalência que estimula, ao mesmo tempo, experiências ilusionistas e literais”, presente no trabalho do artista:

A única estrutura que sustenta sua madura e humorada liberdade, e que se revela por meio do domínio da técnica, força individual, clareza e independência de linguagem, porém, é o dualismo. [...] Seu jogo de escalas, a disposição e as “molduras” criam um espaço cósmico parecido com aquele que envolve as figuras do surrealismo. [...] as formas destas pinturas em telas gigantes parecem ter volume. É nesse momento, quando adquirem peso tridimensional corpóreo e qualidades materiais, que os objetos e imagens começam a cumprir sua função representadora: aparecem como organismos, morfologias reconhecíveis ou não, mas sempre personagens de uma história real e imaginária que se inicia. [...] Há também o outro lado, a experiência literal [...] pelas sugestões e limites formais da própria pintura, que se coloca constantemente como objeto físico. [...] O espectador é conscientizado, então, do fato de que ele experimenta ilusões pelas dimensões literais desta pintura.[37]

1984

Em maio, integra como convidado a 1ª Bienal de Havana, em Cuba. Na Cidade do México, participa de duas coletivas: El Grabado Brasileño Contemporáneo, na Embaixada do Brasil, e 4ª Bienal Iberoamericana de Arte: El Autorretrato, organizada pelo Instituto Nacional de Bellas Artes e pelo Instituto Cultural Domecq. Juan José Rosales é o curador da exposição. O catálogo traz texto de Fernando Gamboa. Em junho, as obras da coleção de Gilberto Chateaubriand figuram na exposição Portraits of a Country: Brazilian Modern Art from the Gilberto Chateubriand Collection. Com curadoria de Sheena Wagstaff, a mostra é exibida no Barbican Art Center, em Londres (Inglaterra). Em novembro, apresenta-se ao lado de Siron Franco no Centre National des Arts, em Ottawa (Canadá), em exposição organizada pela Embaixada do Brasil. Também em novembro, participa da coletiva Tradição e Ruptura: Síntese de Arte e Cultura Brasileiras, na Fundação Bienal de São Paulo, com coordenação geral de João Marino.

1985

Em junho, faz individual de pinturas na Galeria São Paulo, de Regina Boni. O texto do catálogo, “Partir para o impossível ou as dicotomias de Antonio Henrique Amaral”, é de autoria de Ignácio de Loyola Brandão. No ano seguinte, é eleita a melhor exposição do ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte. A mesma galeria organiza, em parceria com o Ministério da Cultura e a IBM do Brasil, a coletiva Brasilidade e Independência, apresentada no foyer do Teatro Nacional de Brasília. Interessante iniciativa em que são apresentados artistas de diferentes gerações, inclusive aqueles da chamada “geração 80”. Olívio Tavares de Araújo escreve a apresentação do catálogo.

Em julho, no 9º aniversário do Shopping Ibirapuera (São Paulo), o artista concebe o painel Fragmento menor da cidade maior (hoje destruído).

Em outubro, inaugura-se no Paço Imperial (Rio de Janeiro) uma exposição-síntese de sua obra, com 56 telas: Pinturas 1968-1985. Antonio Henrique é o primeiro artista a expor individualmente após o restauro do espaço. A exposição também é vista no Museu de Arte Moderna do Rio Grande do Sul (Porto Alegre) e, no ano seguinte, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. O texto dos catálogos é de autoria de Frederico Morais. Ainda em outubro, integra a sala especial Expressionismo no Brasil: Heranças e Afinidades, na 18ª Bienal Internacional de São Paulo, com curadoria geral de Sheila Leirner e curadoria da sala especial de Stella Teixeira de Barros e Ivo Mesquita. São apresentadas nove obras do artista: cinco gravuras (produzidas entre 1963 e 1968), três desenhos (pastel sobre papel, 1980) e uma pintura, Autorretrato (1983).

Em novembro, viaja para o Japão, para a coletiva Today's Art of Brazil, no Hara Museum of Contemporary Art, em Tóquio. Participam também Antonio Dias, Hilton Barredo, José Roberto Aguilar, Leda Catunda, Luiz Paulo Baravelli, Lydia Okumura, Marcia Grostein, Siron Franco, Tunga e Vicente Kutka. O texto de apresentação no catálogo é de autoria de Aracy Amaral. Visita Hiroshima e o Museu da Bomba.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) publica o livro de Marta Traba, Museum of Modern Art of Latin America: Selections from the Permanent Collection, em que estão reproduzidas as obras do artista pertencentes ao acervo do Art Museum of the Américas: a gravura Grupo (1958) e a pintura Banana (1971).

1986

Faz três individuais, Antonio Henrique Amaral: Obra sobre Papel, 30 anos, apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti e na galeria do Instituto de Artes da Unicamp, na mesma cidade. A mostra integra o projeto Artista Residente da Unicamp e tem como curadores alunos do curso de Artes Plásticas – Eliane Tanasovici, Gilbertto Prado, Jair Guilherme Filho, Luciana Marta Silveira, Maxilene de Arruda, Rafaela Passos Furtado, Sérgio Soares e Silvia Valéria Vieira –, também autores dos textos do catálogo. O artista expõe 112 trabalhos. Em junho, é apresentada no Museu de Arte Moderna de São Paulo a mais abrangente exposição do artista até aquele momento, com cerca de 80 pinturas, além de desenhos e gravuras. No catálogo, Pieter Tjabbes, curador da exposição e diretor do museu, escreve o texto de apresentação e Frederico Morais assina o texto crítico:

Examinando o conjunto de sua obra, concluo que o permanente em Antonio Henrique Amaral é o fantástico. Porém, deve-se distinguir essa constante de sua obra do modelo surrealista europeu. Entre nós, o fantástico não é uma forma de evasão ou de escapismo: ao contrário, tem sido um meio eficaz de compreensão e aprofundamento de nossa realidade, um mergulho no interior de nós mesmos e do Continente. [...] Ora, desde o início de sua carreira, o esforço de Amaral tem sido o de buscar o equilíbrio – sempre tenso e difícil – entre os campos objetivo e subjetivo, entre o olhar para fora e o mergulhar dentro de si.

Em setembro, Antonio Henrique Amaral: Obra em Papel é apresentada na Galeria Montesanti (São Paulo). Em entrevista a Olívio Tavares de Araújo, o artista fala sobre a recente produção de desenhos:

O desenho possibilita um descompromisso maior, é um processo de autoconhecimento mais rico. Por outro lado, a pintura envolve uma construção que também é enriquecedora do fazer. Mas acredito que há hoje uma tendência das duas técnicas a convergirem, no meu trabalho. Estou caminhando para pintar mais com o meu desenho e desenhar mais com a minha pintura. As coisas vão interagindo.[38]

Também integra as coletivas A Urbs na Visão de Oito Artistas (Galeria Montesanti, Rio de Janeiro), com apresentação de Frederico Morais; 1ª Mostra Christian Dior de Arte Contemporânea/Pintura 86 (Paço Imperial, Rio de Janeiro); Annual Graphic Show (Acanthus Gallery, Coral Gables, EUA); e Coleção Denison: Arte Contemporânea Brasileira (Museu de Arte de São Paulo), com a obra Peras, que integra a coleção, e curadoria de Carlos von Schmidt.

1987

Em junho, integra a importante coletiva Art of the Fantastic: Latin America, 1920-1987, apresentada no Indianapolis Museum of Art e, no ano seguinte, no Center for the Fine Arts, Miami, EUA. Assinam a curadoria Holiday T. Day e Hollister Sturges. O catálogo tem ensaio Edward Lucie-Smith e texto dos curadores. Apenas dois brasileiros vivos integram a mostra – Antonio Henrique e Siron Franco –, além de obras de Tarsila.

Realiza a individual Obra Recente, apresentada, em outubro, na Galeria Montesanti de São Paulo e, em novembro, na Montesanti do Rio de Janeiro. Olívio Tavares de Araújo escreve o texto do catálogo e assina crítica na revista IstoÉ,[39] em que salienta a mudança de rumo – uma volta às origens da abstração –, já anunciada na mostra de desenhos no ano anterior, na mesma galeria. Na mostra carioca, além das 21 obras (técnica mista), o artista inclui oito litografias produzidas em Paris, que denomina série “Masrour”, em homenagem ao marchand e amigo Kamille Masrour, recentemente falecido.

Entre outras coletivas, destacam-se Latin American Artists in New York since 1970, no Archer M. Huntington Art Gallery, da University of Texas at Austin (EUA), com curadoria e texto de Jacqueline Barnitz, e Modernidade: L' Art Brésilien du XXe Siècle/Modernidade: Arte Brasileira do Século XX, no Museé d'Art Moderne de la Ville de Paris (França), apresentada no ano seguinte no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Na curadoria, Aracy Amaral, Roberto Pontual e Marie-Odile Briot selecionaram as obras Campo de batalha 22 (1974), Detalhe da folha (1976), Expansão (1977) e Construforma (1985), do artista.

1988

Ao mesmo tempo em que se realiza em Paris a grande mostra de arte brasileira Modernidade, a galeria parisiense 1900-2000 apresenta a coletiva São Paulo – Rio – Paris, com obras de Angelo de Aquino, Antonio Henrique Amaral, Claudio Tozzi, Roberto Magalhães e Siron Franco. Marie-Odile Briot assina o texto do catálogo.

Em março, o artista apresenta-se individualmente na recém-inaugurada Opus Gallery, em Coral Gables (EUA), na qual expõe pinturas de 1980 a 1988.

Duas coletivas no Brasil fazem um balanço da produção dos anos 1960. A primeira, no Rio de Janeiro – 88 x 68: Um Balanço dos Anos –, apresentada simultaneamente no Espaço Cultural Sérgio Porto e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com curadoria, entre outros, de Frederico Morais. A segunda, em São Paulo – Figura & Objeto: 63/66 –, apresentada na Galeria Millan, com curadoria de Casimiro Xavier de Mendonça.

Em setembro, dez artistas brasileiros integram a importante coletiva Brasil Já, apresentada na Alemanha, no Morsbroich Museum (Leverkusen), na Landesgirokasse Galerie (Stuttgart) e, no ano seguinte, no Sprengel Museum (Hannover). Além de Antonio Henrique, participam Adriana Varejão, Antonio Dias, Dudi Maia Rosa, Emmanuel Nassar, Hilton Barredo, José Roberto Aguilar, Leonilson, Nuno Ramos e Siron Franco.

O artista vence concurso para projeto de um painel para o Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. Contando com a participação de artistas convidados – Claudio Tozzi, Emanoel Araujo, José Roberto Aguilar, Sergio Ferro e Valdir Sarubbi –, o concurso foi organizado pelo governo do estado de São Paulo para substituir a obra Tiradentes, de Cândido Portinari, deslocada para o Salão de Atos do Memorial da América Latina. A comissão de seleção e premiação foi integrada por Carlos Alberto Cerqueira Lemos, Casimiro Xavier de Mendonça, Ernestina Karman, Jacob Klintowitz, José Roberto Teixeira Leite e Radha Abramo. O Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo conserva o memorial descritivo da obra. O painel São Paulo-Brasil: criação, expansão e desenvolvimento, acrílica sobre tela, com 4,5 x 16 metros (7 chassis interligados, 13 módulos), leva nove meses para ser executado e é inaugurado no ano seguinte, pelo governador Orestes Quércia.

1989

Inauguração do painel São Paulo-Brasil: criação, expansão e desenvolvimento no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do estado de São Paulo, com Júlio Medaglia regendo a Orquestra Sinfônica Juvenil do Litoral e Anna Maria Kieffer. Em depoimento à jornalista Heloisa Lupinacci, o artista detalha o projeto:

O painel foi concebido tendo como centro a pequena igreja da fundação de São Paulo. Depois, as diversas etapas da expansão das fronteiras de nosso país, pela ação inacreditável dos bandeirantes, que, buscando ouro, esmeraldas e escravizando índios, fizeram a aventura de chegar até Manaus, no Norte, Lima e Peru, a Oeste. Enfim, que avançaram mata adentro, a pé ou de barco, e foram responsáveis pelas fronteiras que temos hoje. Por isso, há em São Paulo-Brasil: Criação, Expansão e Desenvolvimento, as entradas, o ciclo da cana-de-açúcar e do café, a urbanização e depois a industrialização, com a poluição e o progresso industrial.[40]

Em dezembro, expõe 16 telas recentes na badalada Elite Fine Art, de José Martínez-Cañas, em Coral Gables (EUA). O catálogo traz o texto “Triptych for Antonio Henrique Amaral”, de Frederico Morais.

1990

Em março, integra a coletiva Figuración Fabulación: 75 Años de Pintura en América Latina 1914-1989, apresentada no Museo de Bellas Artes, em Caracas (Venezuela). A curadoria é de Roberto Guevara. No catálogo, prólogo de Gabriel García Márquez.

Ao longo do ano, figura na coletiva Brasil-Japão Contemporary Art Exhibition/Exposição Brasil-Japão de Arte Contemporânea, apresentada no Japão, em museus de Tóquio, Saporo e Atami, e no Brasil, no Museu de Arte de São Paulo e no Museu Nacional de Belas-Artes (Rio de Janeiro). Participa como artista convidado da exposição Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no Museu de Arte de Brasília.

1991

Em abril, participa da prestigiada exposição Viva Brasil Viva: Konst fran Brasilien, apresentada no Kulturhuset, Liljevalchs, em Estocolmo (Suécia). Os curadores Bo Särnstedt (Liljevachs Konsthall), Elizabeth Haglund (Kunsthuset) e Kerstin Danielson visitaram o Brasil em 1990 e escolheram 29 artistas, o maior conjunto de arte contemporânea a sair do país. Antonio Henrique ocupa a sala central do espaço expositivo, com 12 trabalhos. Os reis da Suécia comparecem ao vernissage. Além do texto dos curadores, o catálogo traz apresentação de Aracy Amaral. As recentes Florestas ameaçadas ganham destaque na imprensa sueca e na brasileira.

Ao longo do ano, integra diversas coletivas no exterior, entre elas: Tradition and Innovation, apresentada no Art Museum of the Americas, em Washington (EUA); Latin American Drawings Today, no San Diego Museum of Art, La Jolla (EUA); Perspectives of the Present: Contemporary Painting of Latin American, no Nagoya Museum of Art (Japão); 6 Artistes Latinoamericans, na Galerie 1900-2000, em Paris (França); 2nd Biennal Exhibition of Arts, em Makurasaki (Japão), conquistando o Prêmio Especial do Júri com a pintura Warm Wind; Parallels and Divergence/One Heritage: Two Paths, apresentada na Daniel Saxon Gallery, em Los Angeles, e na Kimberly Gallery, em Washington (EUA).

No Brasil, participa de quatro coletivas: A Árvore de Cada Um, na Galeria Montesanti Roesler (São Paulo), com curadoria de Casimiro Xavier de Mendonça; Cidadania: 200 Anos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, no Sesc Pompeia (São Paulo), para a qual concebe litografia sobre o artigo XII da Declaração. A comissão de seleção é integrada por Alzira Alvarenga Jacob Klintowitz, Nelson Nóbrega e Radha Abramo (curadora da exposição). A exposição é organizada pelo governo do estado e o Sesc. Um exemplar de cada gravura foi adquirido pelo Fundo Social de Solidariedade do Estado de São Paulo e doado, em 1993, à Pinacoteca do Estado; 2ª Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras, na Fundação Demócrito Rocha (Fortaleza), a convite de Sérvulo Esmeraldo, idealizador do projeto; O Que Faz Você Agora, Geração 60?: Jovem Arte Contemporânea dos Anos 60 Revisitada, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, com curadoria de Gabriela Suzana Wilder.

1992

Entre março e abril, apresenta-se individualmente no Brasil e nos EUA: Amazônia “A Mata”: Antonio Henrique Amaral (Galeria do Memorial da América Latina, em São Paulo), com o texto “Antonio Henrique, Amazônico”, de autoria de Olívio Tavares de Araújo, e Antonio H. Amaral: Recent Works (Elite Fine Art, em Coral Gables), com o texto, de autoria de Edward J. Sullivan, “Recent Paintings by Antonio Henrique Amaral: Personal Trauma/National Anguish”:

In the lastest work seen in this exhibition Amaral has chosen to widen his path and create new frames of reference for the political and ecological protest that lies at the root of his expression. […] many of these works have the look of stop-action cinema. Their distorted realities make us focus more closely on their messages of despair. […] These pictures also display a turn toward a more rigorous geometrical/constructivist treatment. Individual images are framed and re-framed. […] When we look at these paintings we observe actions frozen in time. It is as if for a single minute the destruction of the jungle […] had stopped and the viewer were given a moment to contemplate this horror. It is as if the artist had given us a reprieve – for just an instant – from the tragedy that we are inflicting upon ourselves.

Em maio, integra a importante coletiva Brasilien: Entdeckung und Selbstendeckung, no Kunsthaus de Zurique (Suíça), com curadoria de Guido Magnaguagno, Hugo Loetscher e Urs Bitterli. O cartaz e o convite trazem reprodução de obra de Antonio Henrique, que também tem presença destacada no espaço expositivo, ao lado de Antonio Dias, Emanoel Araujo, Frans Krajcberg e Siron Franco.

Em junho é premiado na mostra Eco Art, por júri presidido por Gilberto Chateaubriand. Apresentada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição integra a programação oficial da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92, e viaja para vários países. São selecionados artistas das três Américas. O Grupo Bozano Simonsen, patrocinador do projeto, edita um álbum de 25 serigrafias a partir das obras apresentadas na exposição e o material didático Projeto Bozano Arte e Natureza, preparado pelo Instituto Arte na Escola/Fundação Iochpe.

Entre outras coletivas no Brasil e no exterior, destacam-se: Mirando a la América Latina y el Caribe, na Expo ’92, apresentada em Sevilha (Espanha); Natureza: Quatro Séculos de Arte no Brasil, no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com a obra Bambuzal. Curadoria de Wilson Coutinho; X Mostra da Gravura Cidade de Curitiba, no Museu da Gravura Cidade de Curitiba, tendo como comissão curadoria Ivo Mesquita, Nilza Procopiak, Paulo Herkenhoff e Uiara Bartira; Coleção Internacional, no Museu de Arte Moderno, na Cidade do México (México); exposição inaugural da Gary Nader Gallery, em Coral Gables (EUA), com a obra Campo de batalha 14; Diversité Latino-Americaine, na Galerie 1900-2000, em Paris (França); L’Amérique Latine dans tous ses États, apresentada na Maison de l'Amérique Latine, também em Paris.

1993

Realiza a série “Teatros”, e treze dessas telas são apresentadas em novembro, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com texto crítico “O artista/a obra”, de Maria Alice Milliet:

Há doze meses, Antonio Henrique entrou num período de intensidade produtiva. As progressões geométricas que vinham dominando ultimamente seus quadros cedem às composições cenográficas. Nesse sentido, retoma o eixo central como elemento organizador do campo compositivo criando encenações onde a figura, reduzida a um motivo, quase um padrão decorativo quando encerrada na grade construtiva, readquire significado. Utiliza um repertório imagético constituído ao longo de anos com algumas inovações e constrói os volumes, como é frequente em sua pintura, pela adoção de um regime de contrastes violentos de claro-escuro. Substitui, entretanto, a profundidade rasa da maioria de suas obras por um aprofundamento espacial sugerido não por uma perspectiva renascentista, mas segundo a frontalidade do espaço “primitivo”. [...] O elenco amaraliano, predominantemente metonímico, é acrescido nessa fase de caveiras, mandíbulas, ossos de animais e pedaços de corpos humanos em putrefação, numa alusão à energia destruidora que habita o indivíduo e a sociedade. Em cena, o terror que nos cala e imobiliza.

Em dezembro, expõe desenhos e pinturas em individual na Galerie Andy Jllien, em Zurique: Antonio H. Amaral – Latin American Painting. O catálogo traz apresentação de Peter K. Wehrli e prefácio de Guido Magnaguagno, vice-diretor do Kunsthaus Zürich.

Além das duas individuais, participa de várias coletivas ao longo do ano, entre elas: O Desenho Moderno no Brasil: Coleção Gilberto Chateaubriand, apresentada na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo, e, no ano seguinte, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Retratos e Auto-Retratos na Coleção Gilberto Chateaubriand, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com curadoria de Denise Mattar. O autorretrato de Antonio Henrique Amaral (1993) é uma das últimas aquisições do colecionador; Memória da Liberdade, na Pinacoteca do Estado (São Paulo), com curadoria de Gérard Bosio; Representação, Presenças Decisivas, no Paço das Artes (São Paulo), com curadoria de Daniela Bousso; Xilogravura – Do Cordel à Galeria, na Fundação Espaço Cultural da Paraíba, em João Pessoa, com curadoria de Leonor Amarante e consultoria de Maria Bonomi, Renina Katz e Roberto Magalhães. No ano seguinte, a mostra é apresentada em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Porto Alegre e em Marselha (França).

A obra Paisagem com facas é incorporada ao acervo do Metropolitan Museum of Art, em Nova York, doada por Martin e Elenore Ross, colecionadores do artista. William Liebmann, curador-chefe do Departamento de Arte do Século XX do museu, também possui gravuras de Amaral em sua coleção particular.

1994

Em março, apresenta trabalhos recentes na Elite Fine Art, em Coral Gables (EUA). O catálogo traz os textos “Esthetically Incorrect”, do artista, e “Signs of Horror and Conscience: Antonio Amaral’s Theater of the Absurd”, do crítico de arte Donald Kuspit:

As pinturas de Amaral são uma síntese brilhante de ideias tradicionais e modernas do fazer artístico, tão complexas e sutis quanto a mensagem que transmitem. Em Amaral, não há qualquer tom de censura, apenas de revelação. Entretanto, o que é revelado por todo o caráter intransigente e toda a economia de meios simbólicos e estéticos que Amaral adota para se comunicar – ele martela sua mensagem, repetidas vezes, como se para penetrar na cabeça dura dos visitantes, para que eles se deem conta de que a peça é sobre eles, e que eles se encontram no teatro de sua vida e da sociedade – é uma contradição.

Na Alemanha, apresenta desenhos no Künstlerhaus Mousonturm, em Frankfurt, durante a Feira do Livro, e os Campos de batalha no Haus der Kulturen der Welt, em Berlim, durante o evento Alles Banane, com curadoria de Annette Hulek. Por ocasião dessa exposição, a revista Foglio Seiten der Sinne publica o ensaio de Vilém Flusser.[41]

Além das individuais, destacam-se as coletivas realizadas no Brasil e no exterior: Bienal Brasil Século XX, na Fundação Bienal de São Paulo, na qual são apresentadas seis obras do artista (curadoria geral de Nelson Aguilar); Prêmio Marco, no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (México); 600 Seoul International Art Festival: Humanism and Technology, no National Museum of Contemporary Art, em Seul (Coreia do Sul).

Marta Traba publica Art of Latin America, 1900-1980 (Inter-American Development Bank e Johns Hopkins University Press), com reprodução de obra do artista.

1995

Uma campanha de prevenção à Aids pede a alguns artistas a elaboração de cartazes. Antonio Henrique prepara um desenho para outdoor que acaba por dar origem a uma nova série de trabalhos intitulada “Torsos”. Em maio, os trabalhos criados para o projeto Contato – Campanha de Sensibilização sobre a Aids, iniciativa do Sesc e Parceiros da Vida contra Aids, com a adesão de 28 artistas, são apresentados na Galeria Sesc Paulista e distribuídos em 100 outdoors pela cidade de São Paulo. No ano seguinte, são apresentados no interior do estado.

Antonio Henrique integra também as coletivas: New Acquisitions – XXth Century Collection, no Metropolitan Museum of Art, em Nova York (EUA), com a obra Paisagem com facas, de 1993, recentemente incorporada ao acervo do museu; O Desenho em São Paulo 1956/1995, na Galeria Nara Roesler, em São Paulo, com curadoria de Frederico Morais; Prêmio Marco, no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (México), no qual apresenta Enamorados na paisagem. O catálogo traz textos de Edward J. Sullivan e Jaime Moreno Villarreal; Point/Counterpoint: Two Views of 20th Century Latin American Art, no Santa Barbara Museum of Art (EUA).

Em setembro, Antonio Henrique publica em O Estado de S.Paulo o artigo “Pintura é o cadáver que mais vive e se mexe”, em que faz uma defesa apaixonada do figurativismo, “que não está voltando, porque nunca foi embora”.

Entre 1995 e 1996, executa quatro painéis de grandes dimensões: o tríptico Paisagem com bambus (1995), óleo sobre tela (2,40 x 7,13 metros), para o Itaúsa S.A. (São Paulo); Bambuzal (1995), óleo sobre tela (2 x 5,50 metros), para o colecionador Roberto Klabin (São Paulo); Torsos (1996), mosaico de pastilhas coloridas (1,45 x 9,20 metros), para o restaurante Terraço Jardins do Hotel Renaissance (São Paulo); e Bambuzal (1996), óleo sobre tela (2 x 5,40 metros), para a Fazenda e Haras Santo Angelo, em Brotas, da família Samaja.

1996

Em março, faz uma individual na Elite Fine Art, em Coral Gables (EUA), apresentando 11 telas de grande formato realizadas no ano anterior.

Em apenas dois meses, pinta 17 telas a óleo intituladas “Anima & Mania”, apresentadas no Museu de Arte de São Paulo, no ano seguinte.

Integra a coletiva Prêmio Marco, com a obra Instrumentos de amor e morte, apresentada no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (México), e no Brasil, as mostras Modernistas Contemporâneos – Acervo dos Palácios do Governo, no Museu Brasileiro da Escultura (São Paulo), Seis Artistas Atemporais, na Galeria Múltipla de Arte (São Paulo), e Off Bienal, no Museu Brasileiro da Escultura (São Paulo).

1997

O artista comemora 30 anos de pintura com quatro importantes exposições individuais e o lançamento de um livro sobre sua obra.

Entre as exposições, estão: entre abril e julho, apresentadas simultaneamente no Instituto Moreira Salles/Espaço Higienópolis (São Paulo) e na Casa da Cultura de Poços de Caldas, Antonio Henrique Amaral: Da Gravura à Pintura. Na ocasião, um desenho é doado à instituição de Poços de Caldas. O catálogo traz texto de Tadeu Chiarelli (“Antonio Henrique antes de Antonio Henrique Amaral”) e entrevista concedida a Antonio Fernando De Franceschi (“Ao largo das correntes”). Em junho, apresenta a individual Obra sobre Papel na Dan Galeria (São Paulo), com 16 desenhos realizados naquele ano. O catálogo traz texto de Maria Alice Milliet:

O desenho é fulcral na obra de Antonio Henrique Amaral, embora seja a vertente menos divulgada e analisada da vasta produção do artista. [...] para Antonio Henrique, desenhar é como “ver o próprio pensamento, é como assistir à confusa atividade interior que é feita de emoções, ideias não verbais, sensações, intuições: o desenho vai revelando a forma primeira”. Essa frequência de baixa censura favorece a soltura do gesto, a irrupção imediata da forma e da cor, uma certa irresponsabilidade quanto ao resultado que o compromisso com a pintura, até por sua fatura muito mais demorada, tende a inibir. [...] O caráter intimista dessa prática empresta aos desenhos um valor que para o pintor é, muitas vezes, superior ao de seus quadros: não dá, não mostra e os guarda como um acervo quase secreto. [...] Campo experimental, é no papel onde primeiro se manifesta o novo, o desordenado, em suma, a rebeldia à linguagem instituída.

Em agosto, inaugura-se a individual Obra Recente, no Museu de Arte de São Paulo. A exposição é exibida pela internet, no site Virtualitas, com base na Alemanha. Posteriormente, é apresentada na Fundação Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro. No texto “A paixão e o ato de pintar”, de Maria Alice Milliet, a curadora atesta a vitalidade da produção recente do artista, nas 19 telas da série “Torsos” e 13 da série “Anima & Mania”:

Uma certa solenidade permeia o primeiro conjunto, diria mesmo, um pudor. A economia de elementos, aliada à sobriedade do colorido, resulta numa realização de intenso depuramento formal, fruto de métier há muito adquirido, que em nada sugere a irrupção pictórica que virá depois. Sobressai a contenção do gesto, as cores sombrias aplicadas a espátula com técnica própria e inconfundível. No segundo, é a revolução. O que move o artista é a necessidade de extravasar a paixão e tudo decorrendo dessa premência. E nisso, a matéria se adensa, a cor satura, a forma se agiganta, chegando a paroxismos de linguagem. Essa oscilação em tão curto período dá bem a medida da pintura de Amaral, nunca a salvo de turbulências, em trânsito incessante do particular para o geral e vice-versa, na constante busca do entendimento e da comunicação.

O livro Antonio Henrique Amaral: obra em processo, publicado pela DBA Artes Gráficas, traz textos de Edward J. Sullivan (“Uma visão do exterior”), Frederico Morais (“O corpo contra os metais da opressão”) e Maria Alice Milliet (“Verso e reverso da figura”). Sullivan sublinha o aspecto construtivo na obra do artista:

[...] o Construtivismo não está longe do mundo de temas estéticos abordado por Amaral. De uma leitura atenta de seus trabalhos, sempre emerge uma forte consciência da forma geométrica. A substância volumétrica e o peso variam consideravelmente de uma tela para outra. Entretanto, uma das características mais constantes das pinturas de Amaral é seu interesse em delinear e sombrear para criar estruturas (tanto representativas como não objetivas) que parecem estar interligadas às formas que as acompanham, criando um todo arquitetônico dentro da tela.

Integra ainda três coletivas: Prêmio Marco, no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (México), com texto de apresentação de Luis Carlos Emerich; Imaginário Popular: Apropriações Antropofágicas, no Itaú Cultural (São Paulo), com curadoria de Stella Teixeira de Barros; e a 1ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, exposição organizada pela Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, com curadoria de Ángel Kalenberg, Frederico Morais, Irma Arestizábal, Justo Pastor Mellado, Pedro Querejazu e Ticio Escobar.

1998

Executa o painel Frutas/98 (óleo sobre tela de 1,20 x 5 metros), para o hotel Porto do Sol, em São Paulo. Concebe também o painel Bambuzal-Rio, para o metrô do Rio de Janeiro – Estação Central do Brasil, projeto que acabou não se concretizando.

Em abril, integra a coletiva Futebol Arte, com a obra No ângulo direito (1997), que virou selo comemorativo lançado no Brasil durante a Copa do Mundo. A mostra é apresentada no Brasil – no Ministério das Relações Exteriores (Brasília), no Memorial da América Latina (São Paulo) e na Fundação Casa França-Brasil (Rio de Janeiro) – e na França, país que sedia os jogos naquele ano – em Paris, no Conseil Économique et Social, e em Marselha. A concepção do projeto é de Paulo Fischberg e Jamie Stewart-Granger e a curadoria da exposição, de Radha Abramo. Em setembro, integra a mostra Figurações, 30 Anos na Arte Brasileira, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (concepção de Teixeira Coelho e coordenação curatorial de Daisy Peccinini). Em outubro, participa da coletiva O Moderno e o Contemporâneo na Arte Brasileira – Coleção Gilberto Chateaubriand, no Museu de Arte de São Paulo.

1999

Nos EUA, integra a coletiva Latin American Still Life: Reflections of Time and Place, apresentada no Katonah Museum of Art, e, no ano seguinte, no Museo del Barrio, em Nova York. A exposição tem curadoria de Edward J. Sullivan e Clayton Kirking. No Brasil, destacam-se as coletivas O Brasil no Século da Arte – A Coleção MAC/USP, organizada pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e apresentada na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo; Mostra Rio Gravura – Acervo Banerj, no Museu do Ingá, em Niterói; e Oito Artistas Brasileiros, na Sérgio Caribé Galeria de Arte, em São Paulo.

2000

Em outubro, a Galeria Nara Roesler (São Paulo) apresenta a individual do artista Divertimentos (Trabalhos...) Recentes, com 33 desenhos realizados de 1998 a 2000. O catálogo traz os textos “Entreato”, de Maria Alice Milliet, e “Brincando com o papel”, em que o artista fala de seus desenhos recentes. Sobre eles, a jornalista Maria Hirszman escreve:

A leveza e o descompromisso parecem ter tomado conta da obra de Antonio Henrique Amaral [...]. Os trabalhos expostos se situam na fronteira sutil entre pintura e desenho. Da primeira, têm a cor; da segunda, o grafismo. [...] predomina a opção pelo prazer de desenhar e pintar, com um certo virtuosismo que parece deixá-lo satisfeito. “O exercício da arte é como a música; se o sujeito não conhece o instrumento, será malandro”, diz, com o orgulho de quem domina com tranquilidade os materiais e as técnicas.[42]

Comemorando 25 anos de atividade, a mesma galeria organiza a coletiva Arte e Erotismo, com curadoria de Frederico Morais. Entre outras coletivas, destacam-se Mostra do Redescobrimento – Brasil 500 Anos, apresentada em vários pavilhões do Parque do Ibirapuera. Uma síntese da mostra – Século 20: Arte do Brasil –, também organizada pela Fundação Brasil 500 Anos e com curadoria geral de Nelson Aguilar, é apresentada na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa (Portugal).

Para comemorar os 70 anos do poeta Ferreira Gullar, 26 artistas doam obras para a Coleção Ferreira Gullar de Pinturas Brasileiras, que passam a integrar o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

Também com obra do acervo, figura na coletiva Outros 500 – Highlights of Brazilian Contemporary Art in UECLAA – University of Essex, Collection of Latin American Art, apresentada na Albert Sloman Library, na University of Essex, em Colchester (Inglaterra). A mostra tem curadoria de Gabriela Salgado. No catálogo, texto de Dawn Ades sobre a obra Cromo e tempo II (1986), doada pelo artista em 1996 (a coleção também conserva o álbum O meu e o seu):

Amaral has explored with great imaginative freedom the borders between figuration and abstraction and the relationship between memory and experience. The surfaces of his paintings, as here, are often dynamically divided like a collage, and he maximizes the dramatic effects of differences in scale. Here fragments that hint at forms of popular imagery like the heart and the breast, and striped shapes are set against a seascape. The blatant sensuality of the imagery is more subtly echoed in the soft dry flesh tones of the paint.

Em dezembro, o Itaú Cultural (São Paulo) apresenta o importante panorama Investigações: A Gravura Brasileira. A curadoria é de Leon Kossovitch, Mayra Laudanna e Ricardo Resende, autores dos textos do livro publicado pelo Itaú Cultural em parceria com a editora Cosac Naify.

Figura em duas exposições com curadoria de Teixeira Coelho e Martin Grossmann: O Papel da Arte, organizada pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e apresentada na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo, e Obra Nova, exposição de reinauguração do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Entre 2000 e 2004, Antonio Henrique se submete a três cirurgias no ombro, com consequências em seu trabalho artístico: limita-se a execução de obras de grandes dimensões.

2001

Além de individual na Marcia Barrozo do Amaral Galeria de Arte (Rio de Janeiro), integra as coletivas Museu de Arte Brasileira 40 Anos – Obras do Acervo, no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (São Paulo), com a obra Banana 69, e Bienal: Os Primeiros 50 Anos – Uma Homenagem a Ciccillo Matarazzo, na Fundação Bienal de São Paulo, no módulo Rede de Tensão, com curadoria de Maria Alice Milliet e Daniela Bousso.

A obra Alone in green é reproduzida no livro Twentieth Century Art of Latin America, de Jacqueline Barnitz (University of Texas Press).

2002

Em junho, a Galeria Nara Roesler (São Paulo) apresenta a individual Antonio Henrique Amaral – Pinturas, 2001/2002. Nas obras expostas – 18 pinturas e 8 desenhos, realizadas entre 2001 e 2002 –, valoriza-se o lado mais subjetivo, dando vazão ao automatismo do gesto. Maria Alice Milliet assina a curadoria e o texto da exposição:

Nas pinturas atuais, não há contenção, mas fluxos. A cor é pura sensação. O espaço perde qualquer horizonte. Tudo se passa num campo de forças em expansão ou contração, em turbilhão, em incessante movimento. Os quadros dessa exposição podem ser vistos como fabulação de um universo onírico em constante transformação, cheio de energia e de acontecimentos dramáticos. [...] o espaço parece varrido por lixo cósmico: detritos, cacos, pedaços de objetos e até mesmo uma flor inacreditavelmente intacta cruzam a tela, impulsionados por um sopro destrutivo.

Integra também as coletivas Caminhos do Contemporâneo 1952/2002, apresentada no Paço Imperial (Rio de Janeiro) e na Pinacoteca do Estado (São Paulo), com curadoria de Lauro Cavalcanti, e Imagem e Identidade – Um Olhar sobre a História: Coleção Museu Nacional de Belas-Artes, apresentada no Banco Santos (São Paulo), com curadoria de Marcus de Lontra Costa.

A obra Boa vizinhança (1968) figura na capa do livro infantojuvenil Um Brasil do outro mundo: aventura na barreira do Inferno, de Silvia la Regina (Berlendis & Verlecchia).

2003

Participa de duas importantes exposições organizadas no Itaú Cultural: Arte e Sociedade: Uma Relação Polêmica, com curadoria de Aracy Amaral, e A Subversão dos Meios, com curadoria de Maria Alice Milliet. Integra também a 3ª Exposição do Acervo dos Associados, no Espaço Cultural BM&F, em São Paulo, cujo acervo passa a ser integrado pela obra Campo de batalha 33 (1974).

A Cosac Naify publica o livro Relâmpagos: dizer o ver, de Ferreira Gullar, do qual consta o texto “Necessidade do maravilhoso”, sobre Antonio Henrique.

2004

Em maio, o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta importante exposição de gravuras do artista. Com curadoria de Maria Alice Milliet, a exposição resgata gravuras produzidas entre as décadas de 1950 e 1970. O patrocinador da mostra – BEA Systems – doa ao MAM 25 linogravuras e 39 xilogravuras. Na abertura da exposição, lança-se o livro Antonio Henrique Amaral: obra gráfica – 1957/2003 (Momesso Edições de Arte), com texto de Ana Maria Belluzzo, entrevista de Maria Alice Milliet e a apresentação de toda a obra gráfica do artista.

Em agosto, sete obras da série “Torsos” passam a fazer parte do cenário do programa Metrópolis, da TV Cultura. Uma das obras é doada à Fundação Padre Anchieta, integrando a Coleção Metrópolis. Parte do acervo da instituição é apresentada no ano seguinte no Instituto Tomie Ohtake e no Museu Oscar Niemeyer (curadoria de Hélio Goldsztejn).

Também com obras de acervos públicos e coleções particulares, integra as seguintes coletivas: Impressões: Panorama da Xilogravura Brasileira, apresentada no Santander Cultural de Porto Alegre, com gravuras do álbum O meu e o seu, pertencente à coleção de Monica e George Kounis. Curadoria de Rubem Grilo e coordenação de Maria Julia Vieira Pinheiros; Still Life – Natureza-Morta, organizada pelo British Council e pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, a partir de obras do acervo, apresentada na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo. Curadoria de Katia Canton e Ann Gallagher; Cinquenta 50, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com três gravuras do artista recentemente incorporadas ao acervo. Curadoria de Felipe Chaimovich.

2005

Em janeiro, inicia colaboração com Ferreira Gullar, ilustrando as crônicas do jornalista publicadas aos domingos na Folha de S.Paulo. Até dezembro de 2007, faz cerca de 150 ilustrações.

Ao longo do ano, integra diversas coletivas no Brasil: Arte Brasileira nas Coleções Públicas e Privadas do Ceará, no Espaço Cultural Unifor, em Fortaleza (curadoria de Max Perlingeiro); O Retrato como Imagem do Mundo, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (curadoria de Cauê Alves); Arte Brasileira – Coleção MAB/Faap, mostra organizada pelo Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado e apresentada no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, durante a Cúpula América do Sul-Países Árabes; Nave dos Insensatos, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (curadoria de Elza Ajzenberg); Dor, Forma e Beleza: A Representação Criadora da Experiência Traumática, apresentada na Estação Pinacoteca, em São Paulo, durante o 44º Congresso Internacional da Associação de Psicanálise (curadoria de Olívio Tavares de Araújo e Leopoldo Nosek); 100 Anos da Pinacoteca: A Formação de um Acervo, mostra organizada pela Pinacoteca do Estado e apresentada na Galeria de Arte do Sesi, em São Paulo (curadoria de Marcelo Araújo, diretor do museu); Erótica – Os Sentidos na Arte, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, e, no ano seguinte, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e de Brasília (curadoria de Tadeu Chiarelli); Vlado 30 Anos, no Museu da Resistência/Estação Pinacoteca, em São Paulo, mostra organizada pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e coordenada por Radha Abramo; A Imagem do Som de Dorival Caymmi, no Paço Imperial, Rio de Janeiro (curadoria de Felipe Taborda).

2006

Em junho, o Banco ABN AMRO Real, que possui duas obras do artista – uma da série “Bambus” e outra da série “Árvores” –, organiza a exposição individual Artistas do Acervo ABN AMRO Real – Antonio Henrique Amaral, com curadoria de Stella Teixeira de Barros.

O artista integra quatro coletivas com obras de acervos públicos e coleções particulares: Arte Moderna em Contexto: Coleção ABN AMRO Real, apresentada no Rio de Janeiro (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), em São Paulo (Banco Real), em Curitiba (Museu Oscar Niemeyer), e, no ano seguinte, no Recife (Instituto Cultural Banco Real). A mostra tem curadoria de Fernando Cocchiarale e Franz Manata e coordenação de Elly de Vries. Integra a exposição com obra da série “Bambus”, pertencente ao acervo; O Olhar do Colecionador – Acervo da Fundação Nemirovsky, na Fundação José e Paulina Nemirovsky/Estação Pinacoteca (São Paulo), com curadoria de Maria Alice Milliet. O acervo conserva a pintura Bananas (1969). O artista também passa a integrar o conselho da instituição, a convite da diretora da Fundação, Maria Alice Milliet, e do presidente do conselho, Jorge Wilheim, cargo que ocupa até 2011; Um Século de Arte Brasileira: Coleção Gilberto Chateaubriand, apresentada na Pinacoteca do Estado (São Paulo), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e, no ano seguinte, no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), no Museu de Arte Moderna da Bahia (Salvador) e no Museu de Arte de Santa Catarina (Florianópolis). Curadoria de Fernando Cocchiarale; MAM [na] Oca: arte brasileira do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo, exposição organizada pelo MAM e apresentada no Pavilhão Lucas Nogueira Garcez (Oca), no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Curadoria de Cauê Alves, Felipe Chaimovich e Tadeu Chiarelli.

Figura também na importante exposição Impressões Originais: A Gravura desde o Século XV, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo e do Rio de Janeiro (no ano seguinte), sob a curadoria de Pieter Tjabbes, Valéria Piccoli e Carlos Martins, e na coletiva Pernambuco Moderno, no Instituto Cultural Bandepe, Recife, sob a curadoria de Paulo Herkenhoff.

Dançantes (litografia e serigrafia) passa a integrar o Clube da Gravura do Museu de Arte Moderna de São Paulo e, no mesmo ano, é apresentada na exposição Clube de Gravura 20 Anos.

Em outubro, é lançado Resmungos, de Ferreira Gullar, com ilustrações de Antonio Henrique Amaral (Imprensa Oficial). O livro reúne uma seleção de crônicas publicadas por Gullar no jornal Folha de S.Paulo desde janeiro de 2005 e ilustradas por Antonio Henrique. Resmungos ganha o 49º Prêmio Jabuti, nas categorias Contos e Crônicas e Livro do Ano/Ficção.

A obra Alone in green é reproduzida no livro Blanton Museum of Art Latin American Collection, de Gabriel Pérez-Barreiro, publicado pela University of Texas at Austin.

2007

Em agosto, a Bolsa de Mercadorias e Fundos – BM&F apresenta Antonio Henrique Amaral – 50 Anos de Obra em Processo, no Espaço Cultural BM&F, em São Paulo. A individual tem curadoria de Pieter Tjabbes. Entre as obras expostas, está Campo de batalha 33 (1974), pertencente à coleção.

Integra também coletivas de importantes acervos públicos e coleções particulares: Itaú Contemporâneo: Arte no Brasil 1981-2006, no Itaú Cultural (São Paulo), com curadoria de Teixeira Coelho; Museu da Solidariede Salvador Allende: Estéticas, Sonhos e Utopias dos Artistas do Mundo da Liberdade – Tributo a Mário Pedrosa, na Galeria de Arte do Sesi (São Paulo), e no Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), com curadoria de Emanoel Araujo e texto crítico de Patrício M. Zárate. Pela primeira vez, a coleção é vista fora do Chile. A xilogravura Madona (do álbum O meu e o seu) integra o acervo do Museo de la Solidaridad, em Santiago; Caminhos do Modernismo no Acervo dos Palácios, no Palácio dos Bandeirantes (São Paulo), abordando propostas modernistas e questões nacionalistas a partir do painel São Paulo-Brasil: criação, expansão e desenvolvimento, 1989, de Antonio Henrique Amaral, com curadoria de Ana Cristina Carvalho; A Gravura Brasileira na Coleção Mônica e George Kornis, apresentada nas unidades da Caixa Cultural do Rio de Janeiro, de Curitiba, Salvador, Brasília e São Paulo, com curadoria de Mônica e George Kornis e texto de Rubem Grilo.

Participa também das coletivas Vanguarda Tropical: 8 Artistas do Século XX no Brasil, ao lado de Antonio Dias, Claudio Tozzi, José Roberto Aguilar, Roberto Magalhães, Rubens Gerchman, Tomoshige Kusuno e Wesley Duke Lee (Ricardo Camargo Galeria, São Paulo) e da 3ª Bienal Nacional de Gravura Olho Latino, como artista homenageado (Centro de Convenções Victor Brecheret, Atibaia).

2008

Em julho, integra a coletiva Masters of the 20th Century: Latin American Art, no National Museum of Contemporary Art, Seul (Coreia do Sul), com curadoria de Choi Eun-ju e Ki Hey-kyung. Em setembro, participa da mostra Brasil Brasileiro: Nossa Terra, Nossa Gente, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro e de São Paulo, e, no ano seguinte, no Museu Nacional de Bellas Artes, Santiago (Chile). A curadoria de Fábio Magalhães ganha o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Em outubro, integra a coletiva MAM 60, organizada pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo, em comemoração aos 60 anos da instituição. A exposição, com curadoria Annateresa Fabris e Luiz Camillo Osorio, é apresentada no Pavilhão Lucas Nogueira Garcez [Oca], no Parque do Ibirapuera.

Ilustra Dez Contos de Machado de Assis, edição comemorativa do centenário da morte do autor, publicada pela Confraria dos Bibliófilos do Brasil.

2010

Em outubro, integra a coletiva Arte Vivo de América Latina, na Universidad de Málaga (Espanha), com a obra Tarjeta postal com sombra, pertencente à Fundación Arte Vivo Otero Herrera. A curadoria é de Camilo Otero Herrera e Adriana Maria Rios Diaz.

2011

Participa da coletiva Latin American Masters of Today and Tomorrow, no ArtSpace/Virginia Miller Galleries, em Coral Gables (EUA). Em outubro, é homenageado no Chapel Art Show, realizado pela Chapel Scholl – Escola Maria Imaculada, em São Paulo.

Ilustra o livro Rupturas: poemas em busca de um eixo (Ateliê), de Ana Maria Amaral, irmã do artista.

2012

Em novembro, integra a exposição A Arte como Narrativa: Um Concurso, Uma História, no Palácio dos Bandeirante, em São Paulo. A mostra conta a história do concurso organizado por Radha Abramo e realizado em 1989 para a escolha do painel do Palácio do Governo, apresentando obras recentes dos participantes: Claudio Tozzi, Emanoel Araujo, José Roberto Aguilar, Sérgio Ferro e Valdir Sarubbi, além de trabalhos de Antonio Henrique, vencedor do concurso. A curadoria é de Ana Cristina Carvalho.

2013

Com a tela Ainda a morte no sábado (1975), integra a coletiva Resistir é Preciso..., organizada pelo Ministério da Cultura, pelo Instituto Vladimir Herzog e pelo Banco do Brasil. Apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e de São Paulo (e, em 2014, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte), a mostra tem curadoria de Fabio Magalhães.

Em dezembro, apresenta-se individualmente na Caixa Cultural Sé, em exposição com curadoria de Sérgio Pizoli.

Notas

[1] Suzana é hoje cineasta, premiada em vários festivais; Aracy, crítica e professora titular de história da arte na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo; e Ana Maria, poetisa e professora titular da Escola de Comunicações e Artes da USP.

[2] Partir para o Impossível ou as Dicotomias de Antonio Henrique Amaral, texto de Ignácio de Loyola Brandão para o catálogo da individual do artista na Galeria São Paulo, em junho de 1985.

[3] Entrevista concedida a Maria Alice Milliet, em 2004, e publicada no livro Antonio Henrique Amaral: obra gráfica 1957/2003 (Momesso Edições de Arte, 2004), p. 31-32. O livro também traz texto crítico de Ana Maria Belluzzo.

[4] Idem, p. 30-31.

[5] Ver nota 3, p. 33.

[6] Ao largo das correntes, entrevista concedida a Antonio Fernando De Franceschi para o catálogo da individual do artista Da Gravura à Pintura (Instituto Moreira Salles, 1997).

[7] Ver nota 3, p. 36.

[8] Idem, p. 11.

[9] Norha Beltrán foi diversas vezes delegada da Bolívia na Bienal de São Paulo e dirigiu o Museo Nacional de Arte, em La Paz, entre 1979 e 1980, a convite da presidente Lidia Gueiler Tejara.

[10] Entrevista concedida aos curadores e reproduzida no catálogo da exposição Antonio Henrique Amaral: Obra sobre papel 30 anos, apresentada no Museu de Arte Contemporânea de Campinas, em 1986.

[11] Ver nota 3, p. 37.

[12] Ver nota 2.

[13] Bienal da Bahia: 2 – Prêmios. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 6 maio 1967.

[14] Artista fixa a realidade. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 26 out. 1967.

[15] Ver nota 2.

[16] Bananas e criação. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 20 set. 1969.

[17] As vigorosas bananas (antropofágicas?) de Antonio Henrique. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 26 set. 1969.

[18] Carta a João Marschner, Atibaia, 24 maio 1970. O jornalista João Marschner (1932-2002) trabalhou em O Estado de S.Paulo na década de 1960, no Suplemento Literário. Depois do AI-5, foi para a Europa e se estabeleceu na Alemanha, onde trabalhou na Rádio Deutsche Welle. A correspondência com Antonio Henrique data do início dos anos 1970.

[19] Pintura didática. Folha de S.Paulo, São Paulo, 31 maio 1970.

[20] Carta a João Marschner, Atibaia, 24 maio 1970.

[21] A hora e a vez do XIX Salão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 24-25 maio 1970.

[22] Marcio Sampaio visita o II Salão (II). Suplemento Literário, Belo Horizonte, 20 fev. 1971.

[23] AMARAL, Aracy. Pinacoteca do Estado – São Paulo. Rio de Janeiro: Funarte, 1982. (Col. Museus Brasileiros, 6.)

[24] Bananas para o mundo. Diário de S.Paulo, São Paulo, 5 ago. 1971.

[25] Pintor ganha com bananas prêmio do Salão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 ago. 1971.

[26] Reproduzida no jornal O Estado de S.Paulo, São Paulo, 20 jan. 1972.

[27] Viagem não modifica o compromisso do pintor. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 29 jan. 1972.

[28] Das bananas em cacho ao cacho de artistas. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 23 dez. 1972.

[29] O campo de batalha de Antonio Henrique. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 mar. 1975.

[30] O corpo contra os metais da opressão. In: Antônio Henrique Amaral: obra em processo. São Paulo: DBA, 1997.

[31] Depoimento do artista gravado e transcrito, concedido à Galeria Bonfiglioli, em 26 de fevereiro de 1975. Arquivo do artista.

[32] Bananas de volta. Veja, São Paulo, n. 341, 19 mar. 1975.

[33] Certezas da pintura. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 12 abr. 1977.

[34] Seis artistas, seis visões plásticas. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 4 set. 1977.

[35] Antonio Henrique Amaral: a conquista de um espaço [1980]. In Amaral, Aracy. Arte e meio artístico: entre a feijoada e o x-burguer (1961-1981). São Paulo: Nobel, 1983.

* Alturas de Machu Picchu, de Pablo Neruda: ”como una espada envuelta en meteoros, hundí la mano turbulenta y dulce en lo más genital de lo terrestre”; “déjame, arquitectura, roer con un palito los estambres de piedra, subir todos los escalones del aire hasta el vacío, rascar la entraña hasta tocar el hombre”.

[36] Antonio Henrique Amaral. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 24 ago. 1980.

[37] Um mergulho profundo na terra dos sonhos. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 22 nov. 1983.

[38] Partes de um diálogo com Antonio Henrique Amaral, de Olívio Tavares de Araújo, texto reproduzido no catálogo da exposição.

[39] Formas em mutação. IstoÉ, São Paulo, 21 out. 1987.

[40] Crescimento do país é retratado em 64 m2. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 jul. 2003.

[41] Schlachtfelder. Foglio Seiten der Sinne, Köln, Okt. 1994.

[42] Antonio Henrique Amaral brinca com formas e cores. O Estado de S.Paulo, São Paulo, 24 out. 2000.

* Uma versão detalhada da bibliografia sobre a obra do artista encontra-se publicada no livro Antonio Henrique Amaral: Obra Gráfica (1957-2003).